domingo, 17 de junho de 2012

HOMOGENIA


Do fato de Jesus ter sido contemporâneo dos sectários judeus, dos terapeutas, também Ele, por conveniência, foi considerado um terapeuta, pois do grego, vem “therapeutai”, formado por “therapeueim”, servir, cuidar, isto é, servidor de Deus e curador esotérico, tal qual era Jesus, mas Ele não era um sectário. Estes sectários eram estabelecidos principalmente em Alexandria, no Egito.

Tinham muita relação com os Essênios, cujos princípios adotavam também, aplicando, como estes últimos, a prática de todas as virtudes. Eram de extrema frugalidade na alimentação, observavam o jejum, celibatários e voltados à contemplação, viviam vidas solitárias. Eram reencarnacionistas e se constituíam como uma verdadeira ordem religiosa.

João, o Batista, o precursor, era considerado pelos Essênios como um grande espírito, uma reencarnação de um “Grande Profeta Bíblico” e dos Essênios assumiu a prática da ablução dos pecados com a água, prática perpetuada pelo cristianismo em geral e pelos muçulmanos até hoje. Filón, o filósofo platônico de Alexandria, foi o primeiro a falar dos terapeutas, considerando-os uma seita do judaísmo e Eusébio, São Gerônimo e outros pais da igreja, pensaram que eles eram cristãos. Mas é evidente hoje, que do mesmo modo que os Essênios, os terapeutas representam o traço de ligação com o catolicismo só pelo batismo, pois este não é reencarnacionista.

Pelo fato de Jesus ter conhecido a seita dos terapeutas, seria errôneo concluir-se que a Sua doutrina fora haurida dessa seita e que, se tivesse vivido em outros meios, teria professado outros princípios. Sustenta-se esta teoria pelo fato de Jesus não ter deixado escritos, porém toda documentação recolhida em volta de Sua obra, inclusive dos apóstolos, foi perdida no incêndio da biblioteca palatina em Roma, acontecido logo após o segundo concílio da igreja de Constantinopla, em torno do ano 553, oportunidade em que foi decretado definitivamente herético o conceito da reencarnação.

Pois assim colocava-se a palavra final numa questão de mudanças, começadas nos tempos de Constantino em 325, e que seria sancionada com a pena de morte quando houvesse a sua contestação, como foi decidido logo depois pela igreja nascente em 382. Tornou-se definitivamente legal em 1231, porém até lá muita gente já havia sido queimada ao manifestar-se contra, sendo este fato considerado heresia. A partir destes fatos, não havia mais “Velho e Novo Testamento”.

Afirma o Apóstolo João, na Sua participação no livro medianímico, recebido na França por volta de 1830, considerado pelos entendidos, a “Terceira Revelação”, que conhecemos hoje com o título português de “Vida de Jesus ditada por Ele mesmo”, que depois para substituir os documentos perdidos, foi encomendada a um grego a elaboração de toda a história que no decurso do tempo veio a ser contida na Bíblia. Um gentio, que nada teria a ver com o Apóstolo Lucas, mas que mexeu na história como se fosse o Apóstolo, e diz ainda de Mateus, que muita coisa creditada também a ele também não seria dele.

Nisso provocou-se uma grande confusão em que o homem se perdeu. Na realidade, esta história foi um capítulo da Humanidade que até hoje não se compreendeu bem, mas depois das ambiguidades da igreja sobre o espírito, um dos primeiros exemplos das variações provocadas pela obra de Constantino, podia ser visto numa porta de duas almofadas esculpidas em Roma, na igreja de Santa Sabina, no fim do terceiro século, uma das primeiras igrejas. Nas almofadas encontram-se cenas do velho e novo testamento que podem ser lidas simultaneamente.

O trabalho tem de um lado os três milagres atribuídos a Moisés: o adoçamento das águas do Mara, a provisão de maná durante a fuga do Egito e a retirada de água de um rochedo. No outro, estão três dos milagres do Cristo: a restauração da visão de um cego, a multiplicação dos pães e dos peixes e a transformação da água em vinho no casamento de Canaã. Sem considerar que Jesus, na “Terceira Revelação”, desmente e credita estes fatos ao fervor do Apóstolo João, que via milagres em tudo. Mas o que teria lido um cristão, olhando as portas da Santa Sabina, na metade do século IV? A árvore com que Moisés adoçou as águas amargas seria reconhecida como a cruz. A fonte, tal como Cristo, uma fonte de água viva dando vida ao rebanho cristão.

O rochedo do deserto em que Moisés foi bater, também seria lido como a imagem de Cristo, o Salvador, de cujo flanco escorria o sangue e a água. O maná preanunciando o alimento de Canaã e da “Última Ceia” e assim foi reduzida a doutrina de Jesus, a uma fábula mal contada que veio integrar-se a ela. Evidentemente, não era isso que São Nilo, o autor da Bíblia figurada tinha em mente, mas a sua primeira visão teria se tornado herética e definitivamente punível depois do segundo concílio da igreja.

Essas “Bíblias” eram grandes livros de figuras em cujas páginas havia duas ou mais cenas. Preso a um atril, o livro veio a ser chamado de “Bíblia pauperum” quando veio a ser estampado depois por Heidelberg, no século XIV, que expunha suas imagens, dia após dia, mês após mês, em sequência e poucos aprenderiam os vários sentidos de cada imagem, em seu significado histórico, moral e alegórico. Mas era o livro dos pobres que não sabiam ler e que em torno das figuras, enfeitavam as narrativas sagradas, ouvidas dos padres. A Bíblia figurada de São Nilo inspirou os livros das missas e vitrais das igrejas, mas foi necessário muito trabalho para reconstruir aquilo que os autores fizeram aí, a partir do ano 325. 
Do livro: O EVANGELHO SEGUNDO A LITÁURICA

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