segunda-feira, 13 de maio de 2013

O CRISTIANISMO DE CONSTANTINO

Segundo a tradição, na véspera da Batalha de Ponte Mílvio, Constantino teve uma visão (ou talvez um sonho profético), durante a qual recebeu um brasão milagroso e a ordem celeste de reproduzi-lo nos escudos, para obter a vitória. Esse brasão, dependendo da fonte, poderia ser um "X ao contrário, com as pontas dobradas" ou as iniciais gregas do nome de Cristo, x (chi) e p (ro), entrecruzadas.

Muitos historiadores colocaram em dúvida ou redimensionaram a veracidade do episódio. Talvez os soldados de Constantino, provenientes da Gália, usassem um símbolo solar no escudo, que poderia ser confundido com a cruz cristã; ou Constantino pode ter mandado gravar o monograma apenas para distinguir suas tropas das de Magêncio.

Com certeza, Constantino, na época, já travara contato com ambientes cristãos. Por exemplo, o bispo Osio, de Córdoba, já fazia parte de seu séquito.

É possível imaginar que Constantino tenha aproveitado a ocasião para testar a eficácia da nova religião e, tendo visto que funcionava decidido adotá-la, transformando o Deus dos cristãos em seu protetor pessoal.

Em seguida, Constantino concedeu crescentes favores, financiamentos e reconhecimentos ao culto cristão. Os bispos, por exemplo, foram isentos do pagamento dos impostos, tornaram-se funcionários imperiais e até juízes de apelação. Em troca, obteve uma ingerência cada vez maior nos assuntos internos da Igreja, da qual se considerava "bispo externo".

Ao mesmo tempo, ele assegurou por muitos anos, pelo menos aparentemente, a prática dos tradicionais cultos romanos: assumiu o encargo de "Pontífice Máximo", ou seja, grande sacerdote do culto politeísta romano; aceitou a realização de jogos e sacrifícios aos deuses em sua homenagem; mandou cunhar moedas com a imagem do Sol Invictus, o Sol Invicto; e tornou feriado o Dies Solis, o Dia do Sol, nosso "domingo". O Sol Invicto era uma divindade adorada por muitos povos do Império e pelo próprio Constantino, antes da conversão. Ao mesmo tempo, entretanto, a esfera solar podia ser considerada um símbolo do Deus dos cristãos e de outras religiões monoteístas do Império.

Outro sinal do empenho de Constantino foi a promulgação de leis morais muito rígidas. Um exemplo é a seguinte, emanada em 320.

O homem que tomar uma moça, com ou sem seu consentimento, sem antes ter estabelecido um acordo com seus progenitores [...] não terá na resposta da moça nenhuma vantagem dada pelo direito antigo, e a própria moça será considerada culpada de cumplicidade no delito. E como muitas vezes a vigilância dos pais é burlada pelos discursos e comportamentos cativantes das nutrizes, que sobre elas [...] recaia a ameaça do seguinte castigo: a abertura de sua boca e de sua garganta, que emitiram sugestões arrasadoras, será fechada com a ingestão de chumbo derretido. Se for verificado o consentimento voluntário da virgem, que esta seja punida com a mesma rigidez que seu raptor, e não será concedida imunidade nem às moças que forem raptadas contra sua vontade, pois poderiam ter permanecido em casa até o dia do casamento, e se a porta houver sido arrombada pela audácia do raptor, estas poderiam ter pedido ajuda aos vizinhos com seus gritos e se defendido a todo custo. Mas, para estas moças, cominamos uma pena mais leve e ordenamos que sejam deserdadas por seus progenitores [...] Se os progenitores, para quem a vingança pelo crime deveria ser uma preocupação particular, mostrarem tolerância e reprimirem sua dor, serão castigados com a deportação.

Os historiadores contemporâneos garantem que a adesão ao cristianismo de Constantino foi convicta e sincera, e é provável que seja verdade, se levarmos em consideração que as concessões religiosas de um oficial romano da época eram bem diferentes das nossas: "...a função do imperador é a de se colocar como sujeito coletivo que represente toda a cidade e todo o mundo (orbis), na qualidade de Imperator orbis. De fato, o primeiro encargo que Augusto reserva a si mesmo é o de Pontifex Maximus, representante junto à divindade que constitui o pacto da aliança [...] E isso continua em vigor até Constantino. Roma, portanto, através de seus sacerdotes, de seus institutos, de seus colégios coletivamente representados pelo imperador, pede à divindade três coisas:

1. A fertilidade das mulheres (tanto mães quanto Mulheres, pois, para os romanos, havia pouca distinção);
2. A vitória dos exércitos;
3. A paz social.

Em troca, ofereciam o culto às divindades.

O direito penal romano tem penas atrozes para os transgressores do culto, pois desrespeitar o culto significava desrespeitar o pacto [...] e a consequência da chama apagada pela não observância de uma vestal era a infertilidade das mulheres, a derrota do exército e a desordem social. Esse é o esquema com base em que Roma age da República até Constantino. Constantino, quando proclama o Edito de Milão, realiza uma operação muito simples: como os velhos deuses não funcionavam mais, pensa em substituir o velho Panteão pelo deus dos cristãos, e, ao perceber que o motor volta a funcionar a pleno vapor e se converte [...] Constantino continua pagão, ou seja, ligado à mentalidade religiosa clássica, até sua morte."

Texto extraído do livro: O LIVRO NEGRO DO CRISTIANISMO - Dois mil anos de crimes em nome de Deus - Jacopo Fo, Sérgio Tomat, Laura Malucelli

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