A Igreja Católica está
"200 anos atrás" dos tempos atuais, nas palavras do cardeal italiano
Carlo Maria Martini, que morreu na sexta-feira aos 85 anos.
A
opinião do religioso – que chegou a ser citado como cotado ao papado – foi dada
durante a sua última entrevista, gravada em agosto e publicada pelo diário Corriere
della Sera, de Milão.
"A nossa cultura envelheceu, as nossas igrejas são grandes e vazias
e a burocracia eclesiástica está crescendo, os nossos ritos religiosos e
vestimentas são pomposos", afirmou o cardeal na entrevista, em que propôs
uma mudança de direção radical.
Milhares de pessoas vêm prestando as suas últimas homenagens a Martini
na catedral de Milão, onde ele foi arcebispo por mais de 20 anos, até se
aposentar em 2002, já sofrendo do Mal de Parkinson.
Em sua última entrevista, o cardeal afirmou que muitos católicos
perderam a confiança na Igreja Católica e defendeu, entre outras adaptações,
uma postura mais generosa em relação aos divorciados.
Além disso, ele pediu que a mudança comece no topo com uma
"transformação radical, começando pelo papa e seus arcebispos".
Escândalos
sexuais
Martini tinha voltado à Itália recentemente, depois de passar os últimos
se aprofundando em estudos bíblicos em Jerusalém.
"Os escândalos sexuais envolvendo crianças nos obrigam a uma viagem
de transformação", disse Martini, referindo-se às várias acusações de
pedofilia que surgiram contra líderes católicos nos últimos anos.
O popular cardeal jesuíta era considerado liberal em diversos aspectos e
foi muito respeitado pelos papas João Paulo II e seu sucessor, Bento XVI.
Analistas dizem que ele ficou conhecido como crítico corajoso durante a
sua passagem pela maior diocese da Europa.
Ele não se furtava a tocar em temas que muitos no Vaticano consideram
tabu, entre eles, o uso de preservativos para combater a Aids na África e o
papel das mulheres no clero.
Em 2008, ele chegou a criticar a proibição da Igreja à contracepção,
afirmando que a postura possivelmente afastou muitos fieis. Dois anos antes,
ele declarara publicamente acreditar que camisinhas são, em algumas situações,
"o menor dos males".
No entanto, é muito incomum que um integrante do alto escalão do clero
critique abertamente a forma com que a Igreja põe seus ensinamentos em prática.
Analistas afirmam que o papa agora tem pela frente uma decisão difícil:
comparecer ou não ao funeral de Martini na segunda-feira – o que, para muitos,
seria uma poderosa afirmação da unidade da Igreja Católica.
O atual pontífice é conhecido por não premiar líderes católicos que se
atrevam a questionar a doutrina.
A última entrevista do religioso foi dada no início de agosto a um
jornalista e ao também jesuíta Georg Sporschill.
O cardeal Martini foi um acadêmico e estudioso da bíblia respeitado,
além de prolífico autor de livros populares sobre religião.
O Corriere Della Sera agora
planeja distribuir cópias do último livro do cardeal ,Fale do Coração (em
tradução livre), aos seus leitores.
Fonte: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/09/120901_igrejacatolicaebc.shtml
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