terça-feira, 29 de outubro de 2013

DIÁLOGO COM O PAPA URBANO II

Cansado, estica-se em uma banqueta rente à cama em que o fardo físico descansava. Daí a pouco, observa uma estrela em formação na penumbra do quarto. Assusta-se e cai de joelhos, rezando sem cessar, esforçando-se para voltar ao corpo, sem o conseguir. A estrela, em estado crescente, avoluma-se, tomando forma de homem todo inundado de luz. O papa, tomando João por Cristo, beija o tapete chorando e pede sua proteção; sente que está na graça de Deus pela presença do Cristo no "Lar de Pedro". Quer beijar, pelo menos, as orlas das vestes celestiais, todavia, o Apóstolo do Amor não o consente, dizendo mansamente:

- Levanta-te! Também eu sou da Terra e vim ao teu encontro para que possas estender um pouco de paz à grande área da guerra que já lançaste. Não sou Jesus, mas enviado por Ele.

João Evangelista pairava ainda no ar e o Pontífice guerreiro recostou-se na banqueta de cedro do Líbano, para ouvir a mensagem do Mundo Maior, através da personificação do Amor na Terra.

Urbano, em espírito, chorando sem parar, enquanto o corpo estremecia nas luxuosas mantas de pelos de camelo, trava com João o seguinte diálogo:

- Mestre, vieste confirmar que sou teu discípulo, pelo que tenho feito em defesa do patrimônio da tua Igreja?

- Viemos verificar se ainda lhe resta no coração algum amor pela humanidade.

- Será que apareceste nesta memorável noite, para entregar ao teu único representante na Terra, os poderes indispensáveis para a tomada de Jerusalém, onde tudo nos pertence, por herança dos teus valores?

- Viemos para que os encarregados da Boa Nova do Reino se compadeçam dos sofredores, vistam os nus e dêem pão aos famintos. Se praticares os preceitos do Evangelho, terás muito mais do que Jerusalém, porque as virtudes concentradas no coração valem mais que o mundo inteiro.

Urbano II não sabia como portar-se diante do emissário de Jesus, estando sua mente completamente desequilibrada e o raciocínio parecendo que nunca funcionara. Seus atos eram como uma máquina, a seguir enfumaçados estatutos, velhas leis e ideias dos altos representantes da Igreja, que a razão recusaria. Com algum esforço, levantou-se diante de João Evangelista, limpou a velha garganta, acostumada a reproduzir as ameaças das sombras, prosseguindo:

- Digníssimo Senhor, perdoa-me se o ofendo com o que proponho, mas bem sabes que satanás está solto no mundo, com todo o seu rebanho de trevas, bem como não ignoras os destroços feitos por eles, mesmo no seio da Igreja de Deus, que nos foi entregue para o devido zelo. E, se ele abriu luta contra nós, temos de defender, não a nós, mas a Casa do Senhor que, parece-nos, está sendo invadida por malfeitores. Se não estivermos enganados, o diabo, sob a chefia de Maomé, atua através dos turcos, pela força de sua religião. A sutileza deles é tão grande, que intentam derrubar a nossa Santa Madre Igreja, através do túmulo do Senhor, em Jerusalém, É preciso então, ainda que contra a nossa vontade, que desembainhemos a nossa santa espada, e liquidemos o inimigo, porque violência só se combate com violência. Que achas do que falo?

Meio aturdido, torna a sentar-se preguiçosamente na suntuosa banqueta. O vidente de Pátmos, diante do Sumo Pontífice, com a serenidade que lhe era peculiar, fala brandamente, mesclando energia no seu verbo encantador:

- Urbano, meu filho! Não pretendemos fazer da Casa de Oração que Jesus inspira, um quartel. Não pretendemos transformar os fiéis, que alimentam as vidas com esperança e fé, em milicianos que usam da espada para matar. Não pretendemos usar o nosso verbo sagrado preparado para a difusão do Evangelho, para o comando de exércitos. A própria Igreja que diriges está farta de bens alheios, dos quais a vitória concede ao vencedor o direito do saque e da rapina. E para esse tipo de faltas nada iremos falar; deixemos que o faça o nosso irmão maior, Paulo de Tarso, em Atos dos Apóstolos, capítulo vinte, versículo trinta e três:

De ninguém cobiceis prata, nem ouro, nem veste.

Se cobiçar já constitui desvio da lei, quanto mais assaltar e saquear!... Se Satanás está solto no mundo e avança na direção da Igreja e dos fieis, qual o dever tua autoridade? Será copiar o que eles fazem, em plena inconsciência da vida? Não! Somente vencerás os inimigos com estratégia mais elevada, e para essas lutas, Cristo, o Comandante Maior, deu numerosos exemplos, quando a Sua doutrina atacada e quando Ele mesmo foi perseguido. Se tua memória não te favorece, recordemos o que Ele próprio falou a Pedro, frente ao servo do Sumo Sacerdote:

Embainha a tua espada, pois todos que lançam mão da espada sob a espada perecerão.
(Mateus, 26:52)

E ainda, apanha a orelha decepada, e a coloca no lugar. Esse gesto não é a completa desaprovação da violência nas hostes do cristianismo?

Se o Cristo fosse de violência, não precisaria d'Ele o mundo, pois ela já se encontra com abundância em toda a Terra. Ele é o Amor universal, pois essa virtude é qual gema preciosa nos riachos, em se falando da Terra. Defende a tua Igreja e o teu reino com amor, meu irmão. Defende-a de satanás - como dizes - com a caridade. Defende-te dos inimigos, se os tiveres, com o perdão. Cultiva todos os preceitos do Divino Mestre, que a vitória virá por acréscimo de misericórdia, e se Deus achar conveniente que os violentos fiquem com os bens terrenos, entrega-os com alegria e obediência, que os valores maiores são aqueles que a ferrugem não destrói, nem a traça corrói. O sentimento elevado do coração é patrimônio eterno, na eternidade da alma. Além de tudo isso, estás próximo a voltar para esta pátria, e é conveniente que te lembres do capítulo doze, versículo vinte, de Lucas, que assim preceitua:

Mas Deus lhe disse: Louco! Esta noite te pedirão a alma. E o que tens preparado, para quem será?

E no versículo vinte e um do mesmo capítulo, arremata com sabedoria:

Assim é o que entesoura para si mesmo, e não é rico para com Deus.

Para quem, meu filho, amontoaste tanta riqueza? Logo virás para cá, e nem mesmo o teu corpo de lama poderás trazer. Entregá-lo-á à terra, porque da terra ele procede. Ele é um empréstimo passageiro. Sabe o que te acompanhará para cá? Somente o bem ou o mal que tiveres feito, e receberás nas mesmas proporções que deste aos outros.

O sacerdote, com a boca semiaberta, mastigava o alimento divino, sem contudo sentir seu elevado sabor. João Evangelista dá tempo para que a massa doutrinária possa fermentar.

E o silêncio reina no ambiente!... Nisto, o chefe do cristianismo lembra-se de algo do Evangelho, e comenta meio inseguro:

- Amado Senhor, falaste que não vieste trazer a paz, mas a espada! Não sei como encontrar isso no Evangelho, mas sei que existe.

Pareceu bem seguro nessa investida, para confirmar seus atos trevosos na Terra. João perpassa nele os olhos calmos, como se estivesse abençoando uma criança, e assim dispõe suas ideias:

- O que acabas de dizer, meu filho, está em Mateus, capítulo dez, versículo trinta e quatro, assim transcrito nos moldes modernos:

Não penseis que vim trazer paz à Terra. Não vim trazer paz, mas espada.

Sei que não desconheceis os pais da Igreja, que suspenderam as colunas teológicas do apostolado romano, como Santo Agostinho, bispo de Hipona, nascido no século IV da era cristã, teólogo, filósofo, moralista e dialético. Homem que, àquela época, já sabia colocar em conexão, a inteligência e a fé. Ele repetiu muitas vezes qual era a espada que Jesus veio trazer para a luta no mundo, chegando ao ponto de ser colocado à margem dos valores reais da Igreja. E desconheces isso? Jesus veio trazer sim, a espada, mas a espada de Verdade, que corta mais de que todas as outras; a espada do Perdão, que vence mais que todas as armas; Veio trazer a espada do Amor, que domina muito mais do que os exércitos reunidos de todos os povos.

Urbano II abaixa a cabeça e não tem coragem de olhar mais para a cândida alma que dialoga com ele e que supunha ser o Cristo. Era consciente do que ouvira, pois tinha amplos conhecimentos dos tratados teológicos. Recomeça a chorar, reconhecendo sua inutilidade. Na verdade, com as Cruzadas ateara fogo nos lares cristãos, mas como apagar? E as labaredas cresciam como nunca... Queria morrer!...

- Eu quero morrer! Eu quero morrer! Sinto que Deus me chama... e debruça na banqueta, em pranto contínuo.

O Mestre de Éfeso articula docemente:

- Urbano, Deus te chama, na verdade, porém, te chama para viver, te chama para que faças alguma coisa, que possa aliviar os sofrimentos humanos, a fome, a peste, a nudez, os infortúnios ocultos, que devastam grande parte dos bairros de Roma. Eleva a tua Igreja acima das misérias humanas, consola e abençoa! Ajuda, serve e estende, Urbano, a fraternidade entre os corações, pois somos todos filhos de Deus e herdeiros do Cristo. Ele, na verdade, deixou à Igreja a posse dos bens imperecíveis da alma, para que ela pudesse repartir, sem estipular preço. Repartir sem trocas exageradas, sem permutas vergonhosas. Parece-nos que neles que julgas inimigos da Igreja e satanás tem mais respeito pelas coisas santas, porque desconhecem o que conheces. A iniquidade assola a humanidade, vergasta os povos em todas as direções, mas o pior é que essa iniquidade se enraíza em Roma, e, se não é muito dizer, na casa que dizes pertencer ao Apóstolo Pedro, a quem encontrei há pouco tempo falando aos muçulmanos, no plano espiritual, quando estavam em sono. Levanta, meu irmão, e vive! Vive para Deus, para a humanidade e para a tua Igreja, no bem absoluto, onde não existem fronteiras. Levanta, toma o teu fardo e anda! Começa a amar a Deus sobre todas as coisas - e pelo menos os que se aproximam de ti - como a ti mesmo. Esta é a lei e os profetas!

O Sumo Pontífice acorda do longo sono, assustado. Os olhos denunciam pranto ininterrupto, coisa difícil de notar na sua postura de homem guerreiro e espírito decidido. O sol já banhava Roma há várias horas.

O texto acima é um diálogo entre João, o Evangelista e o Papa Urbano II, em desdobramento durante o sono da noite, referente às Cruzadas que já haviam partido em direção ao Oriente.


Do livro: FRANCISCO DE ASSIS - JOÃO NUNES MAIA (MIRAMEZ)

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

A INQUISIÇÃO NO BRASIL


Essa grande nação, marcada pelo Cruzeiro do Sul, simbolizando a redenção de um povo na sua feição de sensibilidade cristã, ouvirá o grito do Rei dos reis em seu berço esplêndido, como argumenta seu hino, para explodir em luzes na hora decisiva do concerto das nações. Categorizada pelo Cristo para ser a remanescente das nações e como a primeira em dar exemplo de fraternidade, abrirá seus vigorosos braços para acolher pessoas de todas as procedências - será a mãe e o pai a abrirem as portas para os filhos pródigos. A derradeira catástrofe de feição coletiva através de mudança de clima, de deslocamento das águas e de reforma dos homens respeitará, de certa forma, este país que nada tem a ver com as dívidas do velho mundo e que servirá de hospital para recolher aqueles enfermos que poderão se recuperar, pela altura de suas aspirações, pelo amadurecimento de suas qualidades. O Brasil vai amparar os que sobrarem das contorções geológicas, do difícil parto da Terra, do qual nascerá um sol que dissipará todas as trevas. O Brasil vai refletir a sua luz em todo o globo, porque aos outros deve todas as experiências que acumulou através dos séculos. Francisco de Assis e os seus colaboradores trabalham ativamente nos céus do Brasil, para que este cumpra o seu dever. Recorda o que o Mestre disse a João no Seu apostolado: "Importa que você fique até que eu volte."

O Cristo voltará para liberar as consciências ativamente preparadas para herdar o reino da Terra e viverem na plenitude do Amor.

A escravidão, no Brasil, foi a Inquisição já aliviada, que sobrou para a vigilância dessa nação, para que ela desse o exemplo de que todos têm o direito de liberdade, mostrando que todos somos filhos da mesma massa e herdeiros do mesmo Pai Celestial. O exemplo foi fecundo, pois muitos escravos, em cujo sangue e epiderme vinha a marca de sua procedência africana, uma vez livres, continuavam querendo ser escravos, por gostarem dos donos de engenho, porque mesmo nas senzalas eram bem tratados, o que dificilmente acontecia nos outros países. Muitos se sentiam felizes, mesmo quando experimentavam nos lombos ressequidos pelo sol, a tala de couro cm. Dentre eles havia muitos Espíritos que vieram do alto escalão terreno e que logo aprenderam a lição de humildade, no corpo de um preto velho ou de uma ama de leite.

Os homens falam muito em Deus. Habituaram-se a repetir o Seu nome em vão, sem, todavia, crerem verdadeiramente n'Ele. O Senhor, em Sua onisciência. Não esquematizaria a Terra, planejaria os fatos e estruturaria a evolução dos homens e das coisas, sem um objetivo maior. O cumprimento das profecias, em relação a Deus, é ilusão passageira, fogo fátuo de pouca importância. Todavia, para nós outros, o fim dos tempos nos perturba e comove, por termos de passar por provas que deverão atingir as últimas fibras do nosso equilíbrio. As palavras do Livro Santo assim se expressam: "Os justos viverão pela fé". Justos são aqueles que incrementam todos os dias os trabalhos de disciplina íntima, que estimulam a caridade e que exercitam o Amor, procurando universalizar os seus sentimentos. Nesse clima, a criatura sairá da opressão dos acontecimentos e, mesmo na Terra, respirará o ambiente do céu.

Bombas de hidrogênio e outros engenhos de guerra nada significam em se falando da lei e da vontade do Criador. O planeta continuará na sua órbita após os acontecimentos, mais serenado e evoluído, mais arejado e pacífico. O Brasil foi escolhido como terapia divina para os que sobreviverem à borrasca. O vendaval irá limpar as escórias humanas, para que o verdadeiro Amor encontre guarida nos corações que herdarem o mundo.

Porém, a premissa de que nada se perderá, tudo se transformará para melhor, é infalível.

O medo que avassala os homens é oriundo da ignorância da bondade e misericórdia da Suprema Inteligência.

Quando os desbravadores dos mares chegaram à Terra hoje conhecida como Brasil, Francisco de Assis já tinha vindo à frente, em companhia do Divino Mestre, o que foi constatado por certos índios dotados de vidência, que tiveram a graça de observar na primeira missa celebrada nas Terras de Santa Cruz, a presença de ambos. Certamente não viram somente os dois. Mestre e discípulo, mas uma falange de obreiros dirigidos por Jesus de Nazaré.

Estas terras estão marcadas para uma grande dinâmica espiritual, que vem se preparando pelos processos do tempo, e pelas mãos dos próprios homens, sob inspiração dos céus. Ninguém tira do destino deste país o que lhe foi dado pela vontade de Deus.

Estamos para chegar ao fechamento de um ciclo espiritual, onde se processará uma seleção rigorosa de almas, pela lei de justiça, senão de Amor, para que o Amor puro se converta em felicidade para os homens, que souberam viver e amar a Deus sobre todas as coisas, e ao próximo como a si mesmo.

Há, na pátria brasileira, regiões já em preparo, sem que os próprios dirigentes saibam da sua verdadeira finalidade. Essa vastidão de terras desabitadas recolherá, mercê de Deus, os desprovidos de pátria, remanescentes da revolução geológica e dos impositivos cármicos. O medo será o combustível para que eles se refugiem neste grande lar, que eles ajudarão a elevar no esplendor do concerto das nações. As suas experiências se confundirão com as já catalogadas na consciência deste povo ordeiro e benevolente.

As convulsões geológicas, as eclosões atômicas de águas e a transferência em massa dos homens, tudo, em comparação com a grandeza de Deus, é menor do que o despejar de um copo d'água sobre um viras.

Se pudesses observar, com nossa ótica, bilhões de vidas em plena batalha num pingo d'água... São processos evolutivos que obedecem a determinadas leis universais, feitas pela Inteligência Maior, soberana do Universo.

Brasil, és tu o esplendor de todas as esperanças! Que Deus te abençoe hoje e eternamente!


Confiemos, que ninguém se perderá no grande rebanho entregue ao Cristo. Ele está no leme dos nossos destinos!

Do livro: FRANCISCO DE ASSIS - JOÃO NUNES MAIA (MIRAMEZ)