As histórias sobre as conversões dos
imperadores quase sempre são feitos colossais. Constantino é aquele que adota o
cristianismo como religião oficial do Império. O mesmo imperador que mandou
matar o próprio filho, a mulher, o sogro e o cunhado. Reza a lenda que Jesus
apareceu para ele e lhe prometeu vitória na batalha em troca da adoção do
cristianismo como única religião do "mundo civilizado" e do uso do
símbolo da cruz, alçado de forma triunfante na batalha. Naturalmente, nem todos
os seguidores de Jesus concordaram com esse pacto, que implicava uma verdadeira
renúncia aos valores cristãos fundamentais. E, então, um dos primeiros gestos
cristãos de Constantino foi perseguir todos os cristãos que seguiam o Evangelho
literalmente e, assim, forçosamente, estavam em conflito com os devotos do
poder. Um sem-número deles foi morto, outros tantos acabaram no exílio,
desprovidos de qualquer bem, outros foram reduzidos à escravidão.
Constantino e a
Igreja imperial
Notas biográficas
Constantino nasce em Mesia (a atual
Sérvia), por volta de 274. Seu pai, Constancio Cloro, era um oficial de
carreira; sua mãe, Flávia Helena, concubina de Constâncio, era uma albergueira,
ou seja, uma subserviente funcionária da estalagem da estação postal.
Constâncio Cloro depois repudiou Helena
para se casar com Teodora, filha do imperador Maximiliano, e, no ano de 293,
entrou na tetrarquia (governo de quatro) criada por Diocleciano, primeiro com o
título de "césar" (vice imperador), e, em seguida, em 305, com o de
"augusto" (imperador pleno).
Constantino participou de várias
campanhas militares durante os anos de juventude, primeiro a serviço de
Diocleciano, depois de Galério e, finalmente, de seu pai.
Quando Constâncio morreu, em 306, os
soldados aclamaram Constantino "augusto", desobedecendo as
disposições emanadas de Diocleciano, dando um verdadeiro golpe de
Estado. Seguiram-se seis anos de guerra civil entre os vários pretendentes ao
título de imperador, entremeada por lutas travadas para levar os bárbaros até
as fronteiras.
Para consolidar seu poder, Constantino
desposou Fausta, filha de Maximiliano, estabelecendo com ele uma aliança para
reinarem juntos no Ocidente. Mas o casamento e o pacto não o impediram de
atacar e matar Maximiliano em 310.
No mesmo ano, de acordo com um escrito
comemorativo da época, Constantino visitou um templo de Apoio, na Gália, onde o
próprio deus apareceu e colocou nele uma coroa de louros. O
mesmo escrito cria uma genealogia que estabelecia que Constâncio, pai de
Constantino, não era homem de origem humilde, mas filho do imperador Cláudio
II.
Em 311, os pretendentes ao título de
"augusto" eram quatro: Constantino e Magêncio, filho de Maximiliano,
no Ocidente, e Valério Licínio e Maximino Daia no Oriente. Constantino se aliou
a Licínio, concedendo-lhe a mão de sua irmã, Constância, e marchou rumo à
Itália contra Magêncio. Em 312, naquela que é lembrada como a Batalha da Ponte
Mílvio, mas que na verdade se iniciou em Saxa Rubia, Constantino derrotou
Magêncio, que morreu durante a retirada, tornando-se, assim, único senhor do
Ocidente. Em 313, ele e Licínio promulgaram o Edito de Milão, que assegurava
liberdade de culto aos cristãos e transformava o cristianismo em uma das
religiões oficiais do Império Romano. Iniciava-se o processo de integração dos
cristãos à sociedade romana e à organização do Estado.
A liberdade de culto dada aos cristãos
seria o pretexto para a luta pelo controle do Oriente entre Maximino
(perseguidor dos cristãos) e Licínio (que, mesmo não sendo batizado, agia como
defensor dos cristãos). A guerra no Oriente se encerra com a vitória definitiva
de Licínio e o suicídio de Maximino.
Em 314, Constantino convocou o Concilio
de Aries, que condenou definitivamente a heresia donatista (um movimento
cristão de rigor excessivo que, em 311, em Cartago, elegeu um bispo alternativo
àquele oficial e apoiado por Constantino) e permitiu que os cristãos ocupassem
cargos públicos, o que até então era considerado pecado.
Em seguida, abafou violentamente o
protesto dos agonistas, ou circunceliões, que, por trás de motivações
religiosas, escondia uma verdadeira guerra de classes.
No mesmo ano, Licínio se revoltou contra
Constantino. Surgiu, assim, uma guerra que teve Constantino como vencedor.
Compelido à rendição, Licínio foi obrigado a lhe ceder quase todas as
províncias orientais, mantendo apenas a Trácia.
Em 323-324, Licínio se rebelou novamente
e de novo foi derrotado. Dessa vez, foi preso e morto, apesar das súplicas
feitas por Constância ao irmão Constantino. A partir de então, desaparece
qualquer resíduo da tetrarquia criada por Diocleciano, e Constantino domina
como um monarca todo o Império Romano.
Em 325, acontece o famoso Concilio de
Nicéia, o primeiro concilio ecumênico da Igreja Católica. Dele participaram
cerca de trezentos bispos e prelados, na maioria orientais, sendo presidido por
Osio, um homem de confiança do imperador. As principais questões abordadas
foram o dogma da Trindade, a reafirmação da origem divina de Cristo e a
condenação à heresia ariana.
Em 326, Constantino manda matar seu
filho preferido, o primogênito Crispo (concebido com uma concubina), e, em
seguida, a mulher Fausta. Segundo diz a lenda, Fausta teria acusado falsamente
o enteado de assediá-la, e Constantino só teria descoberto a verdade depois.
No mesmo ano, condenou à morte também
Liciniano, filho de sua irmã Constância e de Licínio.
Em 330, Constantino transferiu a capital
para a cidade grega de Bizâncio, rebatizada de Constantinopla, após ser
ampliada e reconstruída. Décadas antes, os imperadores romanos já tinham
transferido o centro de comando para fora de Roma, por motivos logísticos e
militares. Constantino fez algo a mais: criou uma segunda Roma, com o mesmo
número de palácios, um Senado e benefícios iguais aos dos cidadãos romanos para
seus habitantes (como a distribuição gratuita de trigo). Talvez Constantino se
sentisse mais seguro e protegido no Oriente, prevalentemente cristão, do que em
Roma, onde o grupo de senadores hostis a ele ainda tinha muito poder e
influência, e quisesse que seus sucessores governassem o Império a partir de
uma nova capital, "livre" dos antigos ranços.
Constantino morreu em 337. Só foi
batizado à beira da morte, por um bispo ariano.
A Igreja Ortodoxa Grega até hoje o
venera como santo.
Pouco depois de sua morte, foram
eliminados seus meios-irmãos Dalmácio e Anibaliano, e o Império foi dividido
entre seus três filhos legítimos: Constantino II, Constâncio II e Constante.
Constantino II foi assassinado em 340,
em uma emboscada, pouco depois de tentar usurpar os domínios do irmão
Constante, que, por sua vez, foi morto alguns anos depois, por um matador do
usurpador Magêncio.
Constâncio II morre de febre em 346, na véspera de um
combate contra o sobrinho e rival Juliano.
Texto extraído
do livro: O LIVRO NEGRO DO CRISTIANISMO - Dois mil anos de crimes em nome de
Deus - Jacopo Fo, Sérgio Tomat, Laura Malucelli
OBSERVAÇÃO: No livro "JORNADA DOS ANJOS" da autora Sandra Carneiro, nas páginas 120 e 121 é relatado que Constantino é o próprio autor das mortes de seu filho Crispus por estrangulamento e em seguida na mesma noite arrependido vai aos aposentos de sua esposa e a afoga na banheira em que se encontrava tomando banho, por ter sido ela a responsável por envenená-lo com calúnias sobre seu filho.