Os primeiros europeus que chegaram à costa da África
foram os portugueses. A primeira expedição portuguesa que levou escravos para a
Europa ocorreu em 1441, destes africanos levados para Lisboa, alguns foram
enviados a Roma e oferecidos ao papa Eugênio IV.
Em 8 de agosto de 1444, foi realizada a primeira venda
pública de escravos na ilha de Arguim, em Lagos (na atual Nigéria), com a
presença do Infante Dom Henrique, de Portugal. Nessa venda os melhores escravos
foram oferecidos à igreja.
As justificativas para a escravidão sempre foram
buscadas em razões econômicas: a Europa necessitava de mão de obra para a
colonização das novas coberturas. No entanto, as considerações econômicas não
impedem que este processo também para ser visto com outros olhos e outras
preocupações, pois este é um passado que reflete consequências ainda no
presente porque a sua legitimação veio da igreja.
Para manter-se por cerca de quatrocentos anos, o
tráfico de escravos precisou ser legitimado através de fórmulas éticas e
morais: o papa Nicolau V, através de uma bula de 15 de setembro de 1448,
concedeu ao rei de Portugal, Afonso V, o direito de tomar posse das terras da
África já descobertas e das que viessem a ser encontradas. Esse documento foi
confirmado por outra bula do mesmo papa, em 6 de janeiro de 1454, e pelos papas
posteriores, Calixto II, em 3 de março de 1455, Xisto IV, em 2 de junho de 1481
e Leão X, em 3 de novembro de 1514.
Grandes quantidades de documentos papais, foram
emitidos reafirmando o direito de Portugal de tomar posse dos territórios
africanos e fazer o comércio de escravos, poderia sugerir que havia maiores
interesses relacionados com isso, como o fato de que o tráfico de escravos
africanos foi uma das mais rendosas atividades econômicas durante a Idade
Moderna, pois os escravos tinham alto valor comercial.
Os religiosos e as autoridades em geral retiravam da
bíblia argumentos favoráveis ao tráfico, afirmando que os negros eram
descendentes de Caim, amaldiçoado por deus por ter matado seu irmão Abel...
Assim, prevaleceu a ideia de que os negros eram escravizados de forma legítima,
desconsiderando o fato de que seu trabalho era indispensável para as colônias.
Esse pensamento aparece, por exemplo, nos textos do padre português Antônio Vieira,
que considerava os negros como estando em pecado e que sua liberdade não era
conveniente à colônia. Como afirmou Vieira em uma de suas cartas, “... esta mesma liberdade assim considerada
seria a total destruição do Brasil”.
Os jesuítas transmitiram aos escravos negros a ideia
de que a sua condição era definida por Deus e que, se suportassem a situação, a
recompensa seria dada no céu.
O padre Vieira
comparava os sacrifícios dos escravos na produção de açúcar ao Cristo na cruz.
Instituído e legitimado o tráfico, o clero católico
participou abertamente dele, especialmente no Congo e em Angola. Charles Boxer
comenta que, “... durante séculos, os
rendimentos dos bispos e da instituição eclesiástica de Angola, foram
financiados pelos lucros do comércio de escravos”.
No século XIX, quando tráfico passou a ser questionado
pelo direito natural – que defende que todos os homens nascem livres – ainda
havia quem defendesse a escravidão como salvadora de almas. Bom exemplo disso
foi o bispo Azeredo Coutinho, para quem o comércio de escravos retirava os
africanos do estado de barbárie em que viviam e os trazia para a civilização.
Segundo Coutinho, as bulas papais que permitiram o
tráfico de africanos desde o século XV consagraram esse princípio da escravidão,
como salvador de almas. Para ele tráfico era “o meio de introduzir a nossa
santa religião (o catolicismo), entre aquelas nações bárbaras, ou ao menos,
salvar muitas almas”, (quanta hipocrisia).
A visão que os europeus tinham dos africanos, desde a
época dos descobrimentos, como seres culturalmente inferiores, não era a mesma
visão racista que se construiu nos séculos XVIII e XIX. No entanto, a religião
forneceu os argumentos para diferenciar brancos e negros e assim permitir a
escravização dos negros.
A legitimação que a igreja católica deu ao comércio de
escravos perdurou ao longo dos quatro séculos em que o tráfico existiu. O papa
João Paulo II reconheceu isso quando visitou a África, em agosto de 1985. Em
seu discurso a um grupo de intelectuais em Iaundê, capital da República dos
Camarões, ele afirmou: “Infelizmente, no
curso da história, pessoas pertencentes a países cristãos nem sempre cumpriram
essa regra (a compaixão) e pedimos perdão aos nossos irmãos africanos que tanto
sofreram, por exemplo, com o comércio de escravos”.
As estatísticas feitas afirmam que cerca de 11 milhões
de africanos foram desembarcados na América entre os séculos XVI e XIX, desse
total 38% vieram para o Brasil.
São milhões de homens, mulheres e crianças que foram
arrancadas de sua terra. Famílias desfeitas. Eram embarcados em navios, e as
condições das viagens eram as piores possíveis. Presos em um porão superlotado,
com péssimas condições de higiene e alimentação, os escravos eram submetidos a
sofrimentos tão intensos que cerca de 40% morria no mar. Chegando ao destino,
eram levados ao mercado e vendidos por peça, os homens eram separados de sua
família, filhos arrancados do seio da mãe, enjaulados e vendidos como animais,
irmãos separados de irmãos.
Nas fazendas eram obrigados ao trabalho forçado. De
sol a sol eles trabalhavam duro. Em algumas épocas chegavam a trabalhar até 18
horas por dia. Eram tratados como animais, com péssimas condições de moradia e alimentação,
alguns eram marcados a ferro em brasa. Por uma falta leve, o escravo era
castigado com dezenas de chibatadas.
Mesmo depois da Lei Áurea, a situação social dos
negros continuou extremamente difícil. Não tinham dinheiro, não tinham estudo,
não tinham qualquer ajuda (onde estava a compaixão cristã nessas horas?).
Muitos dos ex-escravos ficaram trabalhando nas mesmas fazendas em que já
estavam, por falta de amparo, e nelas o negro continuou sendo explorado, de
maneira cruel e desumana.
Um século depois da abolição da escravatura, ainda
pesa sobre o povo negro a triste herança de mais de três séculos de escravidão.
As estatísticas atuais mostram os graves problemas sofridos pelo negro na
sociedade. Eles são os mais atingidos pelo problema da miséria, da fome, da
falta de moradia, do desamparo à educação e da falta de assistência à saúde.
São eles os que trabalham nas profissões mais humildes e ganham os piores
salários.
Todo um desarranjo social que a igreja ajudou a
construir, enquanto ostentava o seu luxo e riqueza, ornada com ouro vindo do
sangue dos negros.
E eu pergunto: Onde estava a “Lei do Amor”? “O amar ao
teu próximo como a ti mesmo”? E a justiça de Deus, que uma Verdadeira Religião
deve ensinar? Quando a igreja aceitou e participou de um ato tão horroroso para
a nossa história como a escravidão. Não sabia que deveria enfrentar as
consequências mais tarde?
E agora a igreja sentada no seu trono papal, considera
que basta pedir perdão e todo um passado de sofrimento, que deixou sequelas e
gerou tanto atraso espiritual, se apaga. Não, isso só não basta, pois se deve
procurar corrigir o erro cometido, pagando na mesma moeda. Tudo o que ela fez,
foi por interesse de um comércio sujo atrás do lucro, e não é somente isso que
esta porta esconde, há muito ainda que se deva discutir, quando vier à tona um
inventário que ainda não foi feito.
E agora é o tempo da toda poderosa Igreja Católica dar
conta e a correção desses abusos deverá ocorrer gradualmente, mas os sintomas
marcam o seu fim, pois já se viu que ela não está acima do Bem e do Mal. A
Espiritualidade Maior determinou a sua revogação, pois a LITÁURICA nasceu para
“corrigir o abuso que o homem cometeu sobre a religião na Itália, há muito
tempo, e fazer com que esta correção se difunda depois para o mundo afora”, e a
partir de um novo berço, onde estava marcada há muito tempo para acontecer, e
está cumprindo as suas etapas normais de crescimento, para que as pessoas nela,
possam ainda recuperar-se dessas participações, que lhes respingou a aura com
tanto atraso.
Luigi
19/01/2002
Do livro: RECORTES LITÁURICOS – Legiões Litáuricas
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