Chegando
a este ponto, a Igreja, faminta por expansão, passou a dedicar-se às conquistas
coloniais. São os sacerdotes os primeiros colonizadores da África negra.
Encontramos padres, ao lado dos conquistadores espanhóis, que
massacraram os índios da América. Foram os padres que organizaram o comércio de
escravos.
Na
verdade, foi o próprio Estado da Igreja que ordenou, em 1344, a conquista das
Ilhas Canárias. E, provavelmente, foi o bispo De Las Casas, após a conquista da
América, que sugeriu que os indígenas, que não suportavam o trabalho
massacrante e as doenças levadas pelos colonos, fossem substituídos por
africanos.
Assim, desde o início de 1500, os missionários da África começaram
a organizar a exportação de escravos para a América, equipando os navios
"missionários" para tal fim. Fala-se de dezenas de milhões de
ameríndios mortos em batalha ou aprisionados, exterminados por doenças e pelo
cansaço. O desastre foi tamanho que se calcula que, só no México, a população
tenha passado de 25 milhões de índios, em 1520, a menos de um milhão e meio em
1595.
Calcular
o massacre ocorrido com o comércio de escravos é impensável. Fala-se de pelo
menos vinte milhões de pessoas levadas para a América. A expectativa de vida
delas, a partir do momento do desembarque, era de sete anos. Mas, para cada
negro que chegava à América como escravo, nove prisioneiros morriam durante a
captura, a viagem até o porto de embarque ou a travessia.' Portanto, pode-se
falar em 190 milhões de mortos. Mas a conta é bem mais dramática: as contínuas
incursões dos escravistas por quase trezentos anos destruíram a economia de
vastas áreas da África, privando populações inteiras de sua melhor mão-de-obra,
o que fez milhões de pessoas morrerem de fome, epidemias e exaustão. Era
possível percorrer centenas de quilômetros em meio às ruínas do que um dia
foram civilizações brilhantes e culturalmente evoluídas e não encontrar um
único sobrevivente, apenas ossos que brilhavam sob o sol.
O
horror do colonialismo teve nos missionários seus mais ferozes defensores.
Estes se dedicaram a extirpar as religiões tradicionais dos povos subjugados
com a violência e a tortura. Chegaram até a impedir que as crianças falassem
sua língua-mãe, punindo-as com castigos corporais.
E
para entender como os padres brancos podiam ser desumanos, basta lembrar que
muitas vezes eram enviados às missões sacerdotes manchados por crimes graves e
que eram considerados indignos para realizar seu ofício na Europa. Eles
abençoaram todas as formas mais infames de apartheid. Em muitos países
da África, por exemplo, os negros eram proibidos de comercializar com os
brancos ou de cultivar hortaliças ou cereais nas áreas em que a monocultura dos
latifundiários brancos era obrigatória. Plantar abóboras custava uma das mãos
na primeira vez, um pé na segunda e, na terceira, a cabeça. A razão de tanta
brutalidade era simples: assim, os nativos eram obrigados a se dedicar à
monocultura e a vender seu produto aos patrões brancos em troca de comida.
Então, se quisessem sobreviver, teriam de vender aos brancos sem poder discutir
o preço. Ou aceitavam ou morriam. E se analisarmos as condições em que muitos
países do Terceiro Mundo se encontram hoje, não poderemos deixar de ver, na
miséria e na violência atuais, a marca de séculos de exploração. Na escola, não
aprendemos nada sobre o colonialismo e o papel da Igreja nele.
Os
ingleses, por exemplo, especializaram-se no tráfico de drogas, vendendo enormes
quantidades de ópio à China. Por três vezes, o imperador chinês proibiu este
comércio e, por três vezes, canhoneiros ingleses bombardearam os portos
chineses para impor sua liberdade de vender droga. Foram as famosas Guerras do
Ópio: em 1848, em 1856 e em 1858. E tenham certeza de que o chumbo dos canhões
era abençoado.
Finalmente, não podemos nos calar a respeito do papel que
a Igreja teve ao apoiar o nazismo, o fascismo, o extermínio dos judeus, os
massacres da Guerra Espanhola, e do suporte dado por boa parte do clero cristão
a todas as mais infames ditaduras do planeta. Sacerdotes católicos abençoaram
os torturadores e os esquadrões da morte no Chile, na Grécia, no Brasil, no
Peru, na Bolívia, na Argentina, na Indonésia. E mesmo o papa Woityla mandou
cartas demonstrando apreço e bênçãos a ditadores sanguinários como Pinochet
(que conheceu pessoalmente durante uma de suas várias viagens).
Texto extraído do livro: O livro Negro do Cristianismo - Dois mil anos de crimes em nome de Deus - Jacopo Fo, Sérgio Tomat, Laura Malucelli
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