sábado, 13 de agosto de 2011

A IDADE DOS MENDIGOS

 
Em pouco tempo, muitos lugares reivindicaram sua soberania e a Igreja Católica conseguiu segurar-se somente na Espanha, Portugal, Áustria, parte da França e na Itália onde, porém, aos poucos, teve se diminuir de muito as suas pretensões. Mas o mundo estava se transformando em novas correntes comerciais. Mercadores de outros países não se conformavam em ver os lucros enormes do comércio com o Oriente dos venezianos, e tentaram atingir as Índias por rotas fora do Mediterrâneo, pois havia bússolas montadas nas rosas-dos-ventos, e se tornara possível determinar latitude com o uso do astrolábio, e havia cartas baseadas em observações. O Atlântico tornou-se a nova rota, e Portugal, Espanha principalmente, tornaram-se os novos parceiros da Igreja. Navios se faziam mar adentro e a viagem de Colombo rumo ao Ocidente foi apenas uma das sem número de viagens semelhantes que se empreendiam. Descobrira-se assim o caminho marítimo para as índias.

Em 1493, o Papa Alexandre VI estabeleceu a linha de demarcação que, sucessivamente, o Papa Júlio II sancionou e Clemente VII ratificou, autorizando a Espanha e Portugal a explorarem com exclusividade, e por qualquer meio de conquista, aquilo que na época era considerado Novo Mundo, isto é, o mundo desconhecido que, porém, já sabiam que existia nestas novas rotas. Tudo o que se encontrava a leste desta linha, se declarava pertencente a Portugal, e tudo a oeste à Espanha. Em troca havia a partilha com a Igreja, e na mediação dos padres, as pilhagens das terras conquistadas. O tratado veio a ser conhecido como "de Tordesilhas", e deu novo brilho à Igreja. A velha fórmula da Igreja fora renovada, chamada para controlar um novo império que ia se construir baseado em novos ingênuos e desprovidos. O problema destes países era "fazer uma guerra justa", pois eles tinham armas de fogo e canhões, tropas treinadas e ávidas de saques, queriam as mulheres indígenas, escravizar índios e pilhar tudo aquilo que podia ter algum valor, e havia os tesouros Astecas, do Peru, o pau-brasil, as suas terras, etc. Os índios não tinham nada, deviam legitimar a matança "sem censura" e procuraram o aval da Igreja. Qual melhor razão que não evangelizá-los? Civilizá-los com uma nova fé? Trouxeram a truculência romana, juntaram os marginais ao Jesus da cruz conspurcaram o paraíso, infestando-o com as suas sujeiras, as suas doenças e nem se aperceberam quando pisaram no Nazareno e Seus Santos, que vendo aquilo estavam chorando.

Na parceria destes "colonizadores" das novas terras, a Igreja reconfortou-se da perda provocada na Europa pelos contestadores e, com os novos recursos, criou um verdadeiro exército disciplinado de padres que começou a operar no séquito dos "conquistadores" e para restabelecer o seu poderio na Europa. Para as novas "colônias" e controlar os avanços protestantes, das muitas Igrejas independentes, foi fundada uma ordem de sacerdotes específicos - os Jesuítas. Comandados por um soldado, um oficial que havia estudado teologia. Constituía-se como um verdadeiro exército organizado e às suas ordens, ele era o seu general comandante - Inácio de Loiola. Estes missionários estabeleceram-se rapidamente na América, ao mesmo tempo em que se estabeleciam na Europa e no Japão onde outro comandante, Francisco Saveiro, se tornava o braço direito do fundador.

Tinham o total apoio do Papa Paulo III que já em 1545, no concílio de Trento, sancionou definitivamente a separação dos Protestantes da Igreja de Roma, dando início a perseguições e verdadeiras guerras que inundaram de sangue a Europa. Mas os recursos provenientes do Novo Mundo à Europa criaram uma nova classe social, "os burgueses", que criaram outra classe social ainda "dos mendigos", que dura até hoje. Como? Em 55 anos, de 1545 até 1600, calcula-se que anualmente cerca de dois milhões de libras esterlinas eram levadas da América só para o tesouro espanhol. E parecia que, ao se esgotar uma mina, descobriam-se sempre novos veios para segurar o fluxo, tamanhas eram as riquezas dessas terras. Os reis de Espanha travaram uma série de guerras tolas, uma após a outra, e pagavam em ouro o que compravam. O dinheiro lhes fugia das mãos e compravam tudo, bem mais do que produziam. Este fluxo de dinheiro sem precedentes provocou um aumento sensacional dos preços.

Quem eram os burgueses? Eram os escritores, os doutores, os professores, os advogados, os juízes, os funcionários, os mercadores, os banqueiros, os fabricantes, em suma, as classes mais abastadas, os que já tinham bem mais do que seus direitos, mas queriam bem mais. Que acima de tudo, queriam lançar fora o jugo da lei feudal. Precisavam jogar fora o gibão feudal para substituí-lo pelo folgado paletó dos capitalistas. O fluxo de dinheiro, sem precedentes na Europa, foi determinante para o enriquecimento desta categoria de pessoas, que elevaram os preços das coisas, que alcançaram níveis sensacionais. Os porões dos galeões que chegavam à Europa vinham cheios de ouro e prata desvalorizando as moedas, pois estes países não produziam mais nada e compravam de tudo e pagavam caro. O fato elevou os preços dos arrendamentos das terras que se tornaram exorbitante.

A ligação entre a elevação dos preços e o influxo de ouro e prata começou a se tornar clara a outros, no Tratado do Cancro da Comunidade da Inglaterra, escrito em 1601 por Gerrard de Malynes, mercador, onde há um trecho que diz:- “... a abundância de dinheiro geralmente encarece as coisas, e a escassez, da mesma forma, faz com que as coisas se tornem baratas... a grande abundância de dinheiro que nos últimos tempos tem vindo das Índias Ocidentais para a cristandade, encareceu tudo".

A Idade pode ser chamada do ouro e dos burgueses que enriqueceram, mas foi também "dos mendigos", pois, já no século XVI, um quarto da população de Paris era constituído por mendigos e nos seus distritos rurais seu número era igualmente grande. Na Inglaterra, as condições eram as mesmas. A Holanda estava cheia deles e até na Suíça, quando não havia meios melhores para livrar-se deles, os "homens de bem", se reuniam e faziam expedições que os exterminariam.

Os problemas monetários lançaram os reis, cada vez mais, nas mãos desta classe de homens ricos, que assim alcançaram muitas concessões. As revoluções do período, que trouxeram novo poder político à burguesia, estavam intimamente ligadas à revolução dos preços.

Tudo mudou: as rendas fixas dos proprietários, dos que viviam de anuidades, pensões, rendas de bens, salários, etc. Que podiam fazer os senhores e os ricos, que haviam comprado às terras da Igreja ou das confiscadas pelos reis? Com os preços subindo as rendas não podiam ficar as mesmas. Havia necessidade de arrancar mais dinheiro das terras. Mas como? Havia duas formas: fechar as terras e elevar os preços dos arrendamentos. Fechar as terras não queria dizer fechá-las à lavoura, mas tirando os lavradores de lá, onde podiam sustentar-se, para transformá-las em pastagens fechadas, especialmente para criação de ovelhas, principalmente na Inglaterra. O que era antes campo, aberto a milhares de pequenas propriedades, onde o camponês vivia com a sua família, foi fechado. Atrás das cercas, a terra continuava sendo lavrada, mas com bem menos trabalhadores e menor desperdício. Maiores rendas para o proprietário, mas, tanto numa como noutra solução, sobrava muita gente, e até o pequeno rebanho da sustentação familiar não tinha mais onde pastar. Enquanto isso, para os senhores havia mais rendas. Perdiam emprego, moradias e meios de simples sobrevivência, os lavradores que haviam ocupado as terras, que passavam a ser cercadas. - (do livro OS PONTEIROS DIRECIONADOS AO CÉU III das Legiões Litáuricas)

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