Quão fácil é confundir a paixão com a virtude, o fanatismo com a razão, ainda quando a paixão possa arrastar aos piores extravios do espírito. Ai daquele que abandona o raciocínio para entregar-se ao impulso do cego fanatismo, pois este não se eleva não.
O que foi a morte de Jesus? Uma obra de paixão que Lhe fechou os olhos à luz do raciocínio, fazendo insensível o Seu Espírito diante dos lampejos da verdade. Quem foram os chamados mártires do cristianismo? Vítimas, não estéreis, porque a abnegação nunca é estéril, porém desnecessária, foram vítimas do próprio fanatismo e da cega paixão de seus sentimentos, da mesma forma que o foram os seus algozes.
De um e de outro lado, a paixão e o fanatismo, ainda que sob diversos aspectos. Porém, por que Cristo entregou o Seu corpo ao verdugo? Pôncio Pilatos não queria um mártir, isso o colocava mal com Roma, queria e podia salvá-Lo, mas Jesus não quis.
Sabia que: “Um homem de quem não se tinha recordações de jamais haver feito mal a ninguém, que somente de praticar e ensinar o bem se ocupava, perdoando até aos que Lhe davam a morte horrível e ainda pedindo a Deus por eles, não podia ser considerado de outra forma senão como um homem de Deus, porque homem nenhum na Terra, pelas crenças limitadas da época, podia ser capaz de tanta grandeza”.
De fato, não poucos cérebros na altura dessas compreensões e níveis de pensamento, e não poucos corações de sentimentos nobres iguais se iluminaram e se elevaram, pois um vasto campo aguardava a religião humanitária do amor, que já tinha tido precursores em Sócrates e Platão.
Porém, o Messias viera pela redenção humana com a tarefa do doutrinador e para trazer o “Conhecimento Ancestral”, base da religião universal pela lei do amor, que não realizou em razão de que, num momento de paixão, escolheu o martírio do madeiro.
Foi uma aposta acertada? Nisso teve intuição? Pois ganhou ascendente sem limite entre aquela humanidade enferma e doente das misérias do obscurantismo, porém chegou a transviar-Se de Sua missão. Deixou de ser o Messias para ser a vítima mística de maior afeto, pelo cruel sacrifício feito a Ele em aras de cego fanatismo e do mais brutal egoísmo dos sacerdotes, que queriam continuar gozando de seu império sobre as ignorantes massas populares.
Foi uma aposta acertada? Nisso teve intuição? Pois ganhou ascendente sem limite entre aquela humanidade enferma e doente das misérias do obscurantismo, porém chegou a transviar-Se de Sua missão. Deixou de ser o Messias para ser a vítima mística de maior afeto, pelo cruel sacrifício feito a Ele em aras de cego fanatismo e do mais brutal egoísmo dos sacerdotes, que queriam continuar gozando de seu império sobre as ignorantes massas populares.
Foi assim consagrado pelas multidões como o representante do verdadeiro amor, o escudo dos fracos, o protetor dos perseguidos, o defensor da inocência, porém não calculou que uma multidão de espíritos inferiores, por Ele favorecidos, por Ele ter se abaixado até eles, iriam reclamar-Lhe e exigir-Lhe uma evolução que Ele não lhes podia dar, e que iriam persegui-Lo e oprimi-Lo sem deixar-Lhe um momento de repouso: uma avalanche de seres inferiores que se julgam com direitos sobre Ele, porque, pela caridade, Ele se rebaixou até eles, aos seus próprios níveis.
Creem que o bem que lhes fez não foi por Sua grande bondade: se julgam com direitos sobre Ele porque outros, em Seu nome, lhes prometeram que só pela Sua mediação teriam alcançado aquela evolução que Ele mesmo lutou para conseguir, porque a ninguém vem nada de graça e sem sacrifícios, mas onde, com valor e constância, todos haverão de chegar.
Seu nome foi ainda suporte das bárbaras e sangrentas lutas para a reconquista das chamadas “Terras Santas”, que deveriam ser reconquistadas sim, mas pela doutrina do amor e perdão de seu ensino.
Não podia, inclusive, calcular a legitimação do nome de Deus na bandeira da mal chamada igreja de Deus, aliada dos “conquistadores” na tentativa de legitimar o poderio da grandeza material. E o Santo Ofício? Dos pretensos vigários do Manso Cordeiro? E a santa inquisição? São milhões os Mártires desta, que ainda hoje pedem justiça a Deus.
E o assenhoreamento das terras colonizadas pelos espanhóis e pelos portugueses, da escravização de milhões de índios e os saques das conquistas? Estes não eram filhos de Deus? Não foram a reclamar-Lhe justiça?
Paixão, e assenhoreada pelas ferozes manifestações de poder, ou paixões convertidas pelo fanatismo, mas sempre tomando conta da razão, por terem nascido da fantasia e dos instintos, da natureza animal dos homens. (O EVANGELHO SEGUNDO A LITÁURICA)
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