Allan Kardec viu a sua primeira publicação espírita queimada e temendo a mesma reação da igreja, preparou outra obra, com aderência ao velho e novo testamento, com a caridade e participação e instruções espirituais de santos e comentários, em concordância com o espiritismo em suas diversas circunstâncias da vida. Conforme as máximas de Cristo e o resumo da doutrina dos espíritos de Sócrates, em 1864, editava em Avinhão “O Evangelho (Selon Kardec) Segundo o Espiritismo”. Nascia nisso um novo contexto religioso: o experimental, que principalmente não fazia exigência de unicidade ideológica, facultava a participação livre tanto ao católico como ao evangélico ou qualquer um, porque já era um caminho para a verdade. Devido aos tempos, ficava assim provado que não podia ser feito mais do que isso.
Esta variação expandiu-se rapidamente, pois tratava o assunto mediúnico que sempre existiu e já tinha sido tabu por longo tempo e o espiritismo atingiu quase um milhão de adeptos só na França, quando foi barrado com o “estigma” da igreja, determinado pelo ato de fé promulgado em Barcelona. Na França , o contexto experimental terminou assim toda sua movimentação, até o final do século XVIII.
O livro “VIDA DE JESUS DITADA POR ELE MESMO”, foi reeditado em Avinhão, em 1876. Mas a reação da igreja ainda uma vez foi a mesma, queimou-o. Foi na sociedade de Buenos Aires, aonde um exemplar deste livro chegou que nasceu a esperança de que disso tudo proviesse a pureza do primitivo ensino crístico. Lá, uma instituição cristã livre providenciou para que o livro fosse traduzido e reeditado na França, na Itália, na Espanha e em Portugal. No Brasil chegou em 1909, aonde veio a ser reeditado em português só em 1948, porque a vinda anterior ao Brasil do Evangelho de Kardec, trazido pelo imigrante, já havia deitado raízes entre o espiritismo brasileiro como se fosse “A REVELAÇÃO”.
Este espiritismo, isento da unicidade ideológica, pelas óbvias razões europeias do seu tempo, foi recebendo influências do africanismo, orientalismo, catolicismo, enfim de qualquer um, onde se formaram novos contextos espíritas kardecistas: “Nascidos com o pecado, para viver na vergonha, preocupados pelo carma, adotaram a caridade como barganha, orando pelo perdão e salvação, sempre no centro, para ouvir a palavra martelada nos ouvidos...”. Nasceu o espiritismo “canônico”, pois até Oxalá é memorizado como o Jesus, deus da cruz, da igreja católica. Entretanto este espiritismo é influenciado pelo mediunismo e não é uma religião, é conhecimento que nem assim deveria se apoiar no catolicismo. Mas se apoia nisso e ainda no mediunismo de qualquer origem, que vem influenciado na consequência natural da vida anterior, vivida normalmente no catolicismo, quando foi condicionada “pelo abuso que o homem cometeu na Itália sobre a religião, há muito tempo”, quando foi facultado ao padre o perdão dos pecados que o coitado nunca pôde perdoar, e o comércio das indulgências da caridade, que também nunca serviram para nada espiritualmente...
Daí o espiritismo como poderia ser religião? Porém é, quando se apoia na liturgia metafísica do “Legado” do cristão, da mesma forma em que se apoia na espiritualidade mais antiga, em que forma a universalidade, e a vida biológica se torna um capítulo de uma vida maior do espírito. Onde também, amando a Deus acima de tudo, se Lhe reconhece o predomínio das leis universais que regem a Criação, que nunca iria se misturar com um filho homem, porque já está envolvido e misturado com todas as criaturas do Universo.
Mas isto já é LITÁURICA, que se liga àquele cristianismo que Constantino não podia permitir que se difundisse no seu reino, porque a prática romana era da conquista e não dirigida pela intenção de levar o progresso. Visava a espoliação das terras e a exploração das gentes conquistadas, e a lei do amor nisso certamente não teria ajudado. Além disso, para satisfazer a sua ambição, precisava estender o seu poder para que chegasse até ao céu e ainda mais se possível. Não teve nenhum remorso em solapar a fé destas pessoas, que certamente, aos seus olhos, nem valia a pena considerar.
A sua intenção era formar uma ideologia que surpreendesse a ingenuidade dos povos primitivos, que pretendia controlar com uma casta sacerdotal corrupta que fosse manter a ordem nestes povos pelo temor a Deus. O resto não lhe interessava, pois ele era um pagão e acreditava na glória e no poder temporal. Daí é que, acompanhado pelos seus partidários fanáticos e cortesãos sedentos de poder, atropelou a “Palavra”, e fez disso tudo uma congregação utilitarista, baseada em conceitos principalmente levianos, de um novo evangelho em que se dizia que ele deveria ser espalhado até os confins da Terra. Lá simplesmente se elevava o clero para mediar os pecados, que já punia legalmente quem não acreditasse neles, e ainda, criaram parâmetros de aparência iguais aos dos pagãos, dispersaram ainda os pesos metafísicos da doutrina milenária. Formou um exército de clérigos caçadores de contribuições, dízimos, todo tipo de subornos e explorações, e instrumentalizaram a caridade pública, pela glória do império, desta igreja e das castas que a dominavam. E estes comentários o “Evangelho Selon Kardec” não os podia fazer ou simplesmente contemplar. - (do livro O EVANGELHO SEGUNDO A LITÁURICA)
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