Se humanamente hão de serem consideradas as cousas, poderia crer-se que as doutrinas de Jesus se haviam de muito antecipado ao tempo que lhes fora oportuno, porquanto agora mesmo não compreendeis o amor mais além do círculo de vossos parentes e amigos. Se muito se observasse no coração vosso, ter-se-ia ainda de chegar à dúvida de se amais realmente alguém além da vossa própria pessoa. Quando, pois, Jesus dizia que todos os homens são irmãos e que deviam, portanto afeto uns para os outros, como membros de uma mesma família, colocava-se na posição de um iludido desde que sem cessar via-se o homem em guerra contra o homem, muitas vezes por mesquinhos interesses, dominando entre eles a mentira, as desconfianças e o egoísmo apropriado certamente para desunir os homens, jamais para constituir família entre eles. É por isso justamente que o Messias era pródigo na repetição desta parte essencial de suas doutrinas, dizendo:
“Justo é e santo, o amor que prodigalizais a vossos pais, mas na verdade vos digo que o Pai Universal muito acima há de ser amado que o pai de uma só família humana. E em verdade também vos digo que se justo é o amor entre os irmãos desta família humana, justo também é que os irmãos da família universal sejam amados acima dos irmãos dessa única família humana, porquanto a família universal é permanente, o Pai Universal é também permanente, e os irmãos desta família universal são também para toda a eternidade; ao passo que a família humana e tudo o que ela se refere, é transitório, como tudo o humano é transitório. Deveis, não obstante, ensaiar vossos sentimentos na família, sendo que quem não ama o pai e a mãe como há de amar o próximo?”
“Vós todos sois, pois, filhos de Deus, antes que de vossos pais e o último de vós há de chegar a ser grande por meio de seu trabalho.”
Compreendiam meus ouvintes o significado contido nestas palavras? Não compreendiam sem dúvida e por isso, justamente, ele não vos foi transmitido. Mas, ainda assim, com o que se dá como tendo dito pelo Mestre, chega-se, contudo a compreender: Que o amor há de ser à base de uma sociedade bem constituída.
Assim, portanto, é de todos formada a família dos espíritos, sendo também eterna porque, os laços da matéria se destroem, enquanto que nada é a morte do espiritual, senão à volta a vida.
Assim, pois, só transitória é a condição do espírito que tomou um corpo e formando famílias carnais, consegue nelas a formação de laços espirituais, que são o do amor, os que persistem depois da morte do corpo, ligando-o melhor, dentro da família espiritual, que é o objetivo, enquanto que a carnal constitui apenas um meio.
As condições da família carnal encerram os altos propósitos do Pai, que, mediante elas, sabiamente faz brotar os mais belos sentimentos entre os esposos, entre pais e filhos, entre irmãos e irmãos, transformando os ódios, momentaneamente ocultos pelo véu da matéria, em estreitos laços de afeto que vão depois entrelaçar os membros da família espiritual em pontos em que a recordação de ofensas ou o desejo de vingança deixaram manchas de obscuridade no meio de campos de luz.
Nem outra cousa nisto se encerra senão o que outras vezes simplesmente disse: “Na verdade, na verdade vos digo, que só o que renascer de novo verá o reino dos céus”. Porém tampouco nesta simplicidade fui compreendido.
Desprezai as dores passageiras da carne em benefício dos gozos verdadeiros e eternos do espírito. Tudo passa na vida humana com rapidez vertiginosa, somente se recolhe o bem que se faz e tudo o que dá engrandecimento à alma.
Do livro: VIDA DE JESUS DITADA POR ELE MESMO – Páginas 384 a 388
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