O que disser: não tenho pecado, a si mesmo enganaria e se eu vos disser que não tenho pecado, me torno mentiroso e não está em mim a palavra daquele que veio em nome do Pai para o conhecimento da verdade que do Pai é.
Já disse, portanto, sem culpa não devo dizer-me...
É preciso, porém, considerar a diferente natureza de todo homem, e é por isso que Judas, chamado o Iscariotes, débil de corpo, com timidez e retraimento em sua pessoa, deu-se em acreditar que não o tomavam em consideração e as aparentes preferências do Senhor por Pedro e por João abriram profunda ferida em seu coração. O espírito do mal trabalhava invisivelmente e faltou-lhe a confiança no Mestre, que o teria salvo; antes o entregou, porém não por dinheiro, que ninguém lhe ofereceu, mas sim por ideia de sua vingança.
Judas, caído no arrependimento assim que o mal praticou, internou-se no campo, vida levando de pena e de trabalho. Espírito de luz é hoje como os outros discípulos do Senhor.
João pôde bem desinteressar-se um pouco de si próprio para aproximar-se do irmão e libertá-lo das trevas de seu coração com palavras de amor, enquanto que somente de fantasias e do desejo de glória apostólica cheia tinha eu minh’alma.
Se eu vos disser, portanto, que não tenho pecado, torno-me mentiroso, porém o tal pecado em falar dos milagres que não existiram, eis que para bem vieram, como pelo próprio Jesus dito é.
Assim, portanto, verdade fala quem diz: João escreveu o Evangelho; e assim pois verdade também fala quem diz: João não escreveu o Evangelho. Quer isto dizer que o apostolado e o ensinamento são de João, mas a letra é e em parte não é. Depois da prisão que sofreu por ordem do Imperador Domiciano e do desterro em Éfeso com que o César o castigou, voltou outra vez a Éfeso quando da morte do mesmo Imperador e começou a preparar as cousas do Evangelho com diferente ideia da que no ano 70 de Jerusalém consigo resolveu. Não, em verdade, o espírito outra cousa fez senão engrandecer propôs-se a influência que pudesse ter sobre os gentios. Disse, pois, assim João: Aqui em Éfeso, em que a tanto a filosofia subiu, muito pouca cousa é a simples doutrina nazarena ensinada por Jesus aos também simples galileus, porém Jesus mais sábias doutrinas aqui houvera dado aos homens que aqui estão porque, sendo Jesus o maior, não há de haver doutrina mais elevada que a dele. E eis, portanto, que entreguei-me ao que nesse tempo chamado era a inspiração do Espírito Santo, e assim, não o Espírito Santo, mas o espírito de meu ofuscamento fez-me escrever e mudar as ungidas palavras do Messias nas frias palavras daquele que suas fantasias quer estabelecer com o raciocínio.
...e no princípio do Evangelho, principalmente, nada é de João.
Provas vos dá a melhor, disto, o capítulo I que nada tem de João.
Toda a verdade deve ser dita, somente o capítulo XXI, todo inteiro, completamente, é de João... Em Mateus pode-se dizer que a palavra e a doutrina do Salvador estão inteiramente. Em Marcos do mesmo modo estão, porém principalmente em Mateus. Do apóstolo Lucas não chegou a escrever-se o Evangelho. Outro Lucas, a quem Galiléia e Jerusalém não conheceram, na Ásia Menor, porém com empenho buscou as cousas pelos discípulos dos apóstolos ditas. Estava também em Damasco um discípulo direto do Senhor, chamado Ananias, que a Paulo para curar viera nos dias de sua consagração pelo espírito do Senhor, quando vinha Paulo de Jerusalém a caminho de Damasco. Ananias do mesmo modo consultado foi por Lucas, ou melhor, Lucano, para o Evangelho que empenho em escrever ele teve e Policarpo também, discípulo de João, perguntado foi e assim vistos foram de iguais documentos e, contudo escreveu Lucas um Evangelho bom, se bem que não procedesse de nenhum discípulo direto do Senhor. Os três outros, pode dizer-se, saíram: Mateus, no ano do Senhor 89; Marcos 91; e João em 96. Pode dizer-se, quer dizer: que por esses anos Mateus e Marcos ocuparam-se em escrever guiados por Pedro; Mateus juntou notícias e discursos do mestre em língua aramaica; Marcos dedicou-se principalmente em escrever sentenças e anedotas do Senhor e fê-lo em língua hebreia. Os discípulos destes, porém, logo que pouco depois estes apóstolos morreram, maiores cousas acrescentaram aos mesmos ensinamentos daqueles. Sucede, no entanto que tais terminados primeiro foram que o de João, o qual pouco depois se viu no ano 96 do Senhor. O de Lucas, porém, não é já do primeiro século, sim da metade do segundo, isto é, por cerca do ano 140 do Senhor.
Nenhum nome mais odiado é e mais temido que o de Jesus, pelos espíritos do mal e nenhuma pessoa foi, é e será mais tenazmente perseguida pelos homens inimigos de todo o bem que a personalidade do Mártir do Gólgota. Prova é isto que ninguém há maior que Jesus entre os homens.
O que chamado é “a visão de Pedro”, um sonho dele foi somente. A pesca milagrosa, abundância recolheu somente seguindo conselho de um homem que viera falar a Pedro desde a costa, no qual mais tarde, com André, Tiago e João, acreditaram ter visto o próprio Mestre, que na ofuscação de seus espíritos, desconheceram.
No dizer do Senhor: “Eu milagres não fiz”, verdade diz...
Pouco, em dar remédios, era dado e mais, o que agora chamais magnetismo, usava, isto é, as mais das vezes o que chamado é por vós imposição e aplicação e sopro, ou mais do que isso ainda, o que chamado é mentalismo...
Sucedeu portanto que nos primeiros dias do mês de abril do ano 33, caminho tomaram da Galiléia a maior parte dos discípulos, quer dizer. Pedro, André, Tiago e João filhos de Zebedeu, Tomé, Tiago filho de Alfeu, Natanael, Filipe e os dois irmãos do Senhor, que andavam com eles, Tiago e o outro. Estes filhos eram de José, que em casamento tomou a Maria, e era ele viúvo e tinha filhos. De Maria não eram portanto estes, os quais, porém, em ajudar os apóstolos mais dados eram que os outros.
Das mulheres, porém, somente Maria, a mãe do Senhor, caminho tomou de Jerusalém com os dois filhos que estavam com os apóstolos e com João.
Assim, portanto, tão depressa no fim do ano 36 afastara-se Pilatos de Jerusalém a caminho de Roma, prenderam a Estêvão e deram-lhe morte por apedrejamento e entregaram-se também a grande perseguição aos cristãos, principalmente aos helenistas convertidos.
A caminho de Damasco, Saul, chamado depois Paulo, teve visão do Senhor, em forma de luz, que lhe disse: “Saul, por que me persegues?”
Nisto caiu por terra e, enfermo, levantaram-no levando-o à presença do discípulo de Jesus, Ananias, que o curou, pois que Jesus já no ano 29 a Damasco também fora e muitos discípulos fez.
Barnabé, no entanto, ouvindo as cousas a Paulo sucedidas, levou-o aos apóstolos e embora desconfiados a princípio paz tiveram e em amor entraram. Tais cousas, porém, ele por si mesmo melhor as disse. Assim, mais ou menos como quinze dias, passou em vida em comum com os apóstolos e com Tiago, o irmão do Senhor.
Não creio, porém, como Pedro diz, que por Paulo salvou-se o cristianismo, pois que o cristianismo no Evangelho estava, e este dos apóstolos galileus saiu.
Diz-me, porém Pedro agora, que do espírito do cristianismo que conheceis, quis ele dizer que Paulo foi o maior, pois que o espírito do cristianismo apostólico era mais judeu que cristão, pois que seguia as práticas todas do judaísmo, até o sábado e a circuncisão, as orações no templo de Salomão e as outras cousas.
Justo é o dito assim por Pedro, João reconheceu-o.
Paulo, porém, muito estimado por nós, entre vós está agora e muitos o têm reconhecido, mas ele, que o sabe, nega. Embora sendo homem, como espírito costuma manifestar-se longe de si, em certas ocasiões. Se assinou Paulo comunicação, não pode vir como homem e dizer: eu Paulo sou.
O trabalho de Jesus na vinha do Senhor, como nos outros tempo, continua, manifestando-se com maiores aclarações por intermédio de seus discípulos que, em turnos, cada um toma corpo para nascimento entre vós. Eles também, porém, esquecimento têm do passado, sendo que seu cérebro tão-somente a fotografia guarda das cousas pelos olhos vistas e pelos ouvidos escutadas, e isto é a memória do homem desde o nascimento. Muitos há, porém, entre vós que memória guardam das cousas de seus outros nascimentos. Vós também, no que é costume chamar fantasia, recordações tendes em verdade do passado, memória é, sem guia de consciência, portanto desordenada.
Não vos aflijam as penas da vida, pois que o vencer dificuldades com paciência, fé e vigor, do adiantamento do espírito vem em proveito.
Assim também devo dizer que nesse mesmo ano 44, antes do fim de fevereiro, veio Herodes Agripa para fazer cortar a cabeça de Tiago, irmão de João...
Sempre, portanto, que Pedro afastado se encontrasse de Jerusalém, Tiago, o irmão do Senhor, que a grande autoridade havia chegado, vinha ocupar o lugar primeiro entre os apóstolos.
Se Paulo, porém, grande foi, não em menor grandeza há de ter-se a Barnabé que o compreendeu no primeiro momento, quando, aproximando-se dos apóstolos de Jerusalém, estes o temeram e tão somente aquele o apresentou recomendando-o aos próprios anciões. Barnabé, porém, fez-se pequeno e humilde para o engrandecimento da obra do Senhor, aproximando-se a Paulo, que retirou-se para sua cidade de Tarso e o apóstolo, certamente para maior grandeza de seu apostolado, humilhou-se a Paulo não apóstolo e subordinado a ele colocou-se, alcançando assim conquista do espírito ressentido de Paulo, de quem a fé em seu apostolado estremecida quase pareceu.
JOÃO O VELHO
Apóstolo de Jesus Cristo.
Do livro: VIDA DE JESUS DITADA POR ELE MESMO – Páginas 467 a 487
Nenhum comentário:
Postar um comentário