sexta-feira, 30 de setembro de 2011

VIDA DE JESUS DITADA POR ELE MESMO - 2ª PARTE - CAPÍTULO VI - RESUMO

“O homem caído de sua primitiva pureza”, tem-se dito, “porquanto toda obra saída das mãos de Deus há de ser naturalmente pura; caindo na impureza tão depressa ele se verá por si mesmo amparado e guiado, porque o seu pensamento é curto, acha-se em trevas a fé, e a visão da alma entravada pela falta de conhecimento do espírito. Essa primitiva pureza é, pois com relação ao que se refere ao ponto de partida do ser como obra do Pai, porém pobre dos dons do espírito, que tão-só pela queda e pela regeneração, pelo sacrifício e pelo esforço, hão de ser alcançados.”.
Difere, portanto a primitiva pureza do ser, que lhe foi dada, da que ao ser lhe pertence por sua própria aquisição, com o esforço e o sacrifício, com a queda e a penitência. Mas quando muito fundo a alma mergulhou na impureza e no erro, muito andou a desordem e muito intimamente se entregou às baixezas da materialidade do corpo e das paixões carnais e satisfações de desejos impuros, converteu-se então a alma em escrava da matéria e do corpo; nada já por si mesma pode e preciso lhe é um Salvador, o que, portanto aconteceu com o Filho de Deus.
A redenção humana não era já possível somente pelo esforço do homem e necessária era a vinda do Messias prometido, para encaminhá-lo novamente pelo direito caminho que o conduzirá para sua salvação, no além.
O homem espírito é encarcerado no cárcere da matéria, mas para vida de espírito foi criado; fora da matéria há de ser sua liberdade e sua grandeza.
Os anjos no céu moram e também os espíritos dos homens hão de ser.
Nos espaços é o céu, mas não os espaços o céu. Os espíritos do Senhor estão nos espaços e no céu. Os espíritos do Senhor estão em Deus e que em Deus está no céu está também.
Irmãos meus, filhos meus, amigos meus, ouvi, pois minhas palavras, que a salvação vos traz, com o conhecimento das verdades necessárias para alcança-la. Abri vossos espíritos à confiança, acreditai em minha palavra que é a palavra do Pai. Melhorai-vos em vossos hábitos e em vossos desejos, elevai vosso pensamento a Deus e fazei penitência de vossos pecados, confessando-vos também uns aos outros.
Do livro: VIDA DE JESUS DITADA POR ELE MESMO – Páginas 337 a 338

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

VIDA DE JESUS DITADA POR ELE MESMO - 2ª PARTE - CAPÍTULO V - RESUMO

Pedi, sobre todas as cousas, estas três: fé, humildade e caridade. Assim vos disse, queridos irmãos meus, e também vos havia dito já que a fé transporta montanhas e é deste poder da fé que pretendo falar-vos agora. Mas deve-se compreender qual de ser a fé, não a que se encerra somente em crer as cousas, que foram ditas em nome do meu Pai e por quem do Pai havia recebido mandato para que as ensinasse e divulgasse, mas a fé que é de Deus e que em nome Dele há de ser recebida, aquela que para Deus eleva em essência os espíritos e não em palavras. Crer na palavra que de Deus vem, muito é já, mas elevar-se até ela, bebendo seus preceitos como a própria essência do próprio ser, muito mais é; e quando por meio dessa fé se veem as cousas de Deus com tanta clareza como por meio dos olhos do corpo as cousas do mundo, e quando nessa fé vive o espírito vida de luz e o invade, nela e por ela, intenso calor de amor e de sentimento puro da verdade e do desejo de justiça, de maneira que essa fé, por si tão intensa que com a própria essência do Pai nos confunde, porque até ele nos eleva, participantes nos faz dos divinos atributos e proporciona-nos tudo o que em Deus existe até onde a intensidade e a pureza de nossa fé alcança.
Em grande erro estão, pois os que ensinam que a fé unicamente se encerra na crença do que não se viu, pois que até a verdade e até o amor, não em crença, mas sim em sentimento, faz-nos levantar a fé, sim, certamente esta fé há de ser a fé. Se tão cousa simples fosse a fé, que bastasse fechar os olhos e dizer sim do que não se viu, para estar nela, que justiça teria no Pai ao premiá-la de vida eterna, se dito foi em seu nome que as portas do céu sofrem violência e somente os violentos entram por elas?
Deve-se entender que a violência há de ser contra as nossas próprias paixões e não materialmente contra as portas do céu que não as tem, porquanto a casa de meu Pai é o que chamado foi o firmamento, e não tem limites; sem portas és, portanto.
Que todas as gentes, ou senão todas, muitas dentre elas procurassem arrimar-se ao Messias porque tinha fé, que saísse dele virtude que os curasse de suas enfermidades, certo foi muitas vezes, e certo também chegou a ser em mais de uma ocasião que fizera sua fé o milagre de que iam em busca junto ao Messias. Portanto, foi dito por ele muitas vezes: tua fé de salvou; quis dizer porventura, a minha fé te salvou? – Assim, quando dito foi “a fé transporta montanhas”, é porque grandes cousas foram e são obtidas da fé, porque nada chega até onde ela chega; quando vós tiverdes fé igual à do Filho de Deus, igual a ele vos vereis; tanto é grande a fé que por ela somente tão alto ascendereis. Mas tende isto por certo, que semelhante fé, que até o Pai alcança, tão somente espíritos do Senhor, os que os anjos foram chamados têm-na conseguido, porque muito viveram, muito caminharam, muito sofreram, muito aprenderam e só no bem pensam e para o bem obram. Tão-somente eles, porém nenhum homem até agora, compreenderam a fé, e a têm como a que aqui se entende e a que pode fazer milagres, ou o que assim chamais, como agora também pode fazê-los, e os faz. Nunca Jesus os fez.
Quando se disse que só pela fé sereis salvos, deste modo entendeu-se que devia ser a fé; mas vós mesmos que recebeis o que estou dizendo não o entendeis, porque se o entendêsseis mais elevados estaríeis, compreendendo o que excede da crença à fé e dessa fé, de que todavia sois capazes, até a fé de que agora vos falo.
Do livro: VIDA DE JESUS DITADA POR ELE MESMO – Páginas 335 a 337

VIDA DE JESUS DITADA POR ELE MESMO - 2ª PARTE - CAPÍTULO IV - RESUMO

Já vos disse, irmãos meus, que, pois que Deus consentiu em enviar seu filho para a salvação do homem, caído tão abaixo de sua pureza primitiva, devido à sua falta de progresso, ele não pode deixar sem cumprimento seu propósito. Assim, pois, truncados pela morte do corpo esses divinos propósitos, só podiam ser cumpridos no momento, pois não podia a vontade do Pai está sujeita à dos verdugos de seu enviado senão enquanto a obra deles pudesse servir de instrumento eficaz, embora cego, para o cumprimento da vontade divina, que pode deixar de ser cumprida. Cumpre-se, pois, novamente agora repito-vos, a obra do Pai, aparentemente interrompida por minha ausência material de entre vós e comporta especialmente dito cumprimento em estabelecer a verdade, tal qual ela foi dita. Assim, pois, tudo aconteceu como devia acontecer. Assim também acontece, hoje, que minha palavra não é acreditada, como já antes disse: Mas quando vier o Filho de Deus, pensais que encontrará fé na Terra? Esses também, os que se dizem mestres de minhas palavras e os que se julgam o porta-voz de meus ensinamentos, vão mal, porque lhes falta a fé, que só é dada aos humildes de coração, aos que sofrem perseguição pela justiça, aos que resignados choram e aos que padecem sede e fome de verdade e de amor.
Recordai o que antes vos falei do homem que tinha uma figueira em sua vinha, foi buscar seu fruto e não o achou. E disse ao que lavrara a vinha: Olha, três anos há que venho buscar fruto nesta figueira, e não o encontro; corta-a pois; para que há de ocupar ainda a Terra?
Venho, pois agora buscar o fruto da figueira que plantei na vinha do Senhor, e não o encontro. Esperais que a figueira seja cortada pela raiz e lançada ao fogo?
Oh! Irmão meus, crede de uma vez na palavra que novamente vos trago, para recordar-vos o nenhum valor das cousas humanas, o enganoso de toda a felicidade que não seja do espírito, a falsidade de toda a aspiração posta nas cousas passageiras da vida e o vazio de toda a esperança que não veja mais além do corpo.
Muitas cousas vos poderia dizer, mas, de que vos valeriam se cegos vos obstinais em permanecer, com a alma acorrentada aos torpes apetites do corpo? – De que vos serviria que vos mostrasse melhor luz, se vós teimais em manter fechados vossos olhos?
Não acreditais muitos de vós que sou eu quem vos fala, e nem mesmo vendo-me o acreditaríeis e tampouco o acreditaríeis se novamente crucificados vos exibissem meus pobres despojos; porém, isto é porque fechados conservais os olhos de vossa fé, fechadas as portas da humildade, fechados os caminhos de vosso coração!
Oh! – Quão distante vos encontrais de onde deveríeis encontrar-vos! – Por isso muda é minha palavra para vós, sem calor meu sentimento, sem o eco a voz de meu constante chamado.
Sede sábios, porque de Deus vem também a ciência. Mas não olvideis que toda sabedoria e toda a grandeza nada são sem a fé, sem a humildade e sem a caridade. Pedi, pois, a Deus sobre todas as cousas, estas três: fé, humildade e caridade.
Do livro: VIDA DE JESUS DITADA POR ELE MESMO – Páginas 332 a 335

VIDA DE JESUS DITADA POR ELE MESMO - 2ª PARTE - CAPÍTULO III - RESUMO

Querem hoje os homens ver no Messias, a quem antes negaram, não já o mediador como a vontade do Pai que o enviara. Jamais, porém, saíram, dos lábios de Jesus, tão temerários ensinamentos; mas preciso é, irmãos meus, curvarem-se antes os altos desígnios de Deus, que por meios incompreensíveis para o homem rodeia a verdade em cada tempo, da forma de prestígios que lhe convém, para que sejam cumpridos os propósitos de seu novo ensinamento entre seu filhos; honrai pois, assim, ao Messias, nessa época de sua filiação divina na Terra; honrai-o com a verdade que o dito por ele comporta, no meio do tempo e dos acontecimentos que o rodearam. Irmãos meus, os justos desígnios de Deus, já vos disse, permitem que por muitos diversos caminhos chegue o ser ao conhecimento do que ele precisa para a sua salvação. Esses caminhos, que são frequentemente desviados em suas aparências, conduzem muitas vezes à certeza, no fim, porquanto, se não foi Jesus o Deus que lhes falou e os dirigiu em pessoa, foi entretanto Deus mesmo quem o fez por intermédio de seu filho. A superstição e o desejo do maravilhoso, fomentados pelas fantasias de um discípulo, que muito longe se encontrava dos verdadeiros propósitos do mestre, rodearam a minha pessoa dos prestígios da divindade, pela divulgação de falsos milagres, concorrendo com isto a que corresse o povo ao encontro do portador da boa nova, do novo profeta, do Messias tantas vezes anunciado, do salvador prometido e esperado tão pacientemente pelas gerações que se sucediam. Eis, pois, explicado, o único, o verdadeiro milagre do que dependia a notoriedade avassaladora do filho do humilde carpinteiro de Nazareth, a rápida divulgação de seus ensinamentos e o selo de tão indiscutível autoridade, que se erguia frente a frente das Sagradas Escrituras, frente a frente da tradição inteira, com todos os seus profetas e com todos os seus divinos mensageiros. Assim também devia acontecer, pois que a criança só compreende a linguagem da criança e não era possível que resultassem estéreis os esforços do celeste semeador da nova semente, do revelador da palavra do Senhor que vinha em seu nome estabelecer a paz entre o império da Terra e os impérios dos Céus. Se, certamente, sua palavra não estava destinada a ser compreendida e seguida completamente durante o tempo de sua presença entre esses homens atrasados e rudes da Judéia, tinha ela, entretanto, seu papel importante no seio do único povo que fazia da religião uma necessidade e da prática de suas doutrinas uma parte inerente de sua vida diária. Era daí, de onde devia tirar sua força e expansão e tirou-a, não sem que dela algo aproveitasse também o mesmo povo hebreu, tratado com excessiva dureza mais tarde, em consequência do horrível crime de haver tingido as mãos no sangue do Enviado Celeste, que veio para levantá-lo de sua abjeção e das rudes condições de sua vida, pelo atraso moral e intelectual em que gemia.
Erro é o afirmar a falta de oportunidade para a nova revelação na Judéia, porquanto não era o prestígio do êxito, não era a vitória das paixões sanguinárias e do domínio estabelecido pelo terror, o que podia dar força de expansão à doutrina do amor aos nossos semelhantes, do perdão das ofensas e do retribuir o bem por mal. São justamente os fracos e os vencidos, os que sofrem, os que têm fé e fome de verdade e de justiça, são estes, justamente estes os únicos que elevam seus olhares ao céu, suas preces ao Senhor, e foram justamente os pobres e os deserdados, os enfermos e os perseguidos, os que eram vítimas da opressão dos poderosos, foram eles os que recolheram minhas palavras e as espalharam aos quatro ventos.
Oh!... Não me rechaceis agora vós outros porque não me apresento com os sinais da evidência material e com prestígio dos grandes fenômenos.
Sempre o milagre, sempre o maravilhoso para dar valor à verdade!
Eu não posso deixar minha natureza espiritual para entregar-me a exercícios de um fenomenismo material, esplêndido para vós, porém indigno da elevada missão que venho novamente desempenhar entre vós, ao abandonar as elevadas regiões onde a bondade do meu Pai me colocou.
Do livro: VIDA DE JESUS DITADA POR ELE MESMO – Páginas 330 a 332

terça-feira, 27 de setembro de 2011

VIDA DE JESUS DITADA POR ELE MESMO - 2ª PARTE - CAPÍTULO II - RESUMO

Duas correntes de opinião se formaram desde o princípio para com a minha pessoa: a dos que me exaltavam e a dos que me combatiam.
Minha obra era santa, pois era a obra do Pai, era de amor e não de ódios; podiam talvez os dominadores de a Judéia duvidar de meus propósitos, que algumas vezes chegaram a ter as aparências de um nacionalismo perigoso para o dominador estrangeiro.
Mas, na realidade, minha alma era completamente alheia a todo o espírito de violência, a toda a ideia de revolta armada. Minha ideia comportava um propósito, esse propósito era o bem e a finalidade era o Pai, fonte de todo o bem, aspiração suprema do verdadeiro espírito da verdade, não  Espírito de Verdade, como pretenderam personifica-lo depois; e ainda quando a princípio, levado pelo espírito ardente do meu sentimentalismo avassalador, comprometi os elevados propósitos de minha missão com manifestações abertamente hostis para com os opressores do povo, que gemia e clamava a Deus por justiça, foi sempre o amor o móvel de minhas palavras e jamais houve, detrás delas, ideias de sangue e represálias.
Compreendiam meus verdadeiros propósitos os que me seguiam?
Sim, com certeza, pois eram desprotegidos do poder e da fortuna, gente simples, que via fechadas na Terra todas as vias de suas aspirações e que se precipitavam ansiosos para os esplendores do porvir, cujas portas, em nome do meu Pai, eu lhes abria de par em par. Mas, se compreendiam meus propósitos, longe estavam da elevação requerida por eles, porquanto a ambição do bem, mais que o próprio bem, inspirava seus propósitos de seguirem-me, pois que buscavam grandeza antes para si mesmos que para os fins que o Pai me enviara a propiciar sobre a Terra; buscavam para si o que deviam buscar para os outros; suas aspirações eram grandes, porém essa grandeza não comportava a ideia do Pai, senão a dos homens, e levava em si os germes de sua própria destruição, disto foi prova a desgraçada traição de meu querido Judas. A traição de Judas filha foi dos ciúmes como já vos disse, de nenhum modo do amor ao dinheiro; esses ciúmes vieram comprovar os germes de destruição que vos digo e que já outras vezes se demonstraram, dando motivos a pequenas dissensões que chegaram a dividir entre si, ainda que por pouco tempo, a meus amantíssimos discípulos.
A compreensão, pois, dos que me ouviam e seguiam, pouco se elevava do nível geral do sentimento dos homens da época, e é assim que o espírito de minha doutrina melhor frutificou depois de minha morte, com a qual, como já vos disse, começou verdadeiramente o mais importante de minha obra, tanto pela influência que ela exerceu, quanto pela luz que derramou sobre meu espírito e sobre os meus discípulos, que outros se sentiram desde esse momento. Filhos meus, irmãos meus, admiremos e adoremos os desígnios de Deus, que de tudo e a todos os momentos fazem brotar o bem e o amor, a harmonia e a luz, ainda quando tudo parece desfalecer e até a morte põe seu selo, aterrador para vossos olhos, como que cortando toda a esperança e matando toda a fé; é então, quando tudo rejuvenesce e se renova no Pai, que é, finalmente, o princípio e o termo de todas as cousas.
Nada morre, irmãos meus, tudo ressurgem dentre as mesmas aparências da morte, para a confirmação mais acabada da vida e de seu aperfeiçoamento por sua aproximação paulatina para Deus. Para Deus, pois, elevem-se constantemente vossos pensamentos e seja a oração, em todos os momentos, o laço que a Ele vos una; mas deve ser a oração tal como já vos disse: o que ama, já amando ora e o que ama sabe antes de tudo enxugar as lágrimas dos seres amados; estes são vossos irmãos, os homens todos, todos os espíritos do Universo.
Do livro: VIDA DE JESUS DITADA POR ELE MESMO – Páginas 328 a 330

Jesus continua sua missão

Jesus continua sua missão.
Pensam os homens que a missão do Messias ficou terminada com o sacrifício de sua vida, porém sua morte não foi mais que o remate com que devia ficar consagrada a grandeza de sua obra, recém começada por ela. Sua morte significa, pois, mais que outra cousa, o grande compromisso de futuras alianças entre Deus e os homens, pelo esforço destes para o acatamento das leis divinas e pela elevada manifestação do Pai no que tem de compreender-se como sua vontade, para ser acatada e cumprida sobre a Terra. Venho assim novamente entre os homens, como já disse outras vezes, para continuar a tarefa começada, confirmando o que já disse, retificando o mal compreendido, ampliando também aquelas manifestações e esclarecendo-as em tudo o que permite a compreensão dos homens.
Não duvideis de minha filiação divina, porque o Pai me havia honrado assim ao mandar-me como Messias entre vós, para que as elevadas alianças espirituais, que me rodeavam, e os altos compromissos contraídos, que me apoiavam ao descer à Terra, lograssem assegurar a obra de redenção humana, muito retardada já. Mas não acrediteis na redenção do pecado pela maneira que se disse, porque o pecado só se redime pelo esforço de quem pecou.
Irmãos meus, sois espíritos tão materializados ainda que nada vos ocorra fora da matéria e resumis, entretanto vossa felicidade na posse dos bens materiais. E é só pela decidida renúncia de tudo quanto forma um atrativo para a carne e para vossos mal dissimulados desejos de predomínio, que conseguireis elevar-vos o suficiente para ingressar pela nova via de vossa regeneração. Sois espíritos jovens ainda; vossos pensamentos, vossos desejos e os mesmos laços carnais que vos ligam à família, tudo vos traz agarrados à terra que habitais. Porém podeis, pouco a pouco, levantar-vos acima dessa materialidade com o arrependimento de vossas faltas e com o cumprimento de vossos deveres, porque é assim como o espírito começa a sua elevação e na elevação espiritual encontra-se o desprendimento da matéria. Recordai-vos do que antes já vos disse: “Eu não trago a paz senão a guerra. Levantai, pois, esta bandeira de guerra e não a enroleis”.
Irmãos meus: - Oxalá possais compreender o significado de minhas palavras e ligar-vos a mim, como irmãos, na adoração do verdadeiro Deus. Como irmãos meus na reforma de vossos hábitos, nas meditações de vosso espírito e no acordo de vossa vontade com a minha, para honrar vossos pensamentos e vossas ações com elevada emanação divina.
Eis-me, pois, entre vós para o cumprimento do que escrito está a respeito de minhas palavras e de meus ensinamentos para o porvir, que é hoje o presente, cumprindo a vontade do Pai que não me haveria enviado antes se não houvesse de permitir mais tarde ajudar a frutificação do que eu havia semeado em seu nome. Vêm assim a constituir estas manifestações como que o resultado natural de meus primeiros trabalhos da vinha do Senhor. Crede, pois, em minha palavra porque eu vos falo pelo amor, e o amor é a essência de Deus. Assim como antes vos disse: “Amai-vos uns aos outros”, agora repito-vos: Só pelo amor será salvo o homem.
Do livro: VIDA DE JESUS DITADA POR ELE MESMO – Páginas 326 a 328

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Batei, e abrir-se-vos-á, Pedi, e dar-se-vos-á

Batei, e abrir-se-vos-á
Pedi, e dar-se-vos-á
“Não somente foi adulterada minha palavra até na letra, como também em sua própria essência a desfigurar o atraso dos homens, desses mesmos que a ouviram de meus próprios lábios.”
“Não é orar o repetir palavras com o corpo curvado para terra e o semblante coberto pela máscara da devoção e da humildade.”
“Não oravam os escribas e os fariseus, porquanto sua linguagem não era a da alma e somente é a alma que até ao pai se eleva pelo amor.”
“O que muito ama já orou; o que deseja o bem de seus semelhantes, já orou também, e o que faz propósito firme de não pecar dominando a natureza carnal, o egoísmo e todas as baixas paixões, esse bateu, e abrir-se-lhe-á, esse pediu e dar-se-lhe-á.”
“Pedi assim com a alma, elevando o espírito para Deus pela sinceridade de vossos propósitos e pelo amor que deve reinar em vossos corações, assim também tereis orado como eu vos ensinei.”
“Erro é o afirmar a falta de oportunidade para a nova revelação na Judéia, porquanto não era o prestígio do êxito, não era a vitória do forte contra o fraco, não era o triunfo das paixões sanguinárias e o domínio estabelecido pelo terror, o que podia dar força de expansão à doutrina do amor aos nossos semelhantes, do perdão das ofensas e do retribuir o bem por mal. São justamente os fracos e os vencidos, os que sofrem, os que têm sede e fome de verdade e de justiça, são estes, justamente estes os únicos que elevam seus olhares ao céu e suas preces ao Senhor, e foram justamente os pobres e os deserdados, os enfermos e os perseguidos, os que eram vítimas da opressão dos poderosos, foram estes os que recolheram minhas palavras e as levaram aos quatro ventos.”
“Oh!... Não me rechaceis agora, vós outros porque não me apresento com os sinais da evidência material e com o prestígio dos grandes fenômenos.”
“Sempre o milagre, sempre o maravilhoso para dar valor à verdade!”
“Eu não posso deixar minha natureza espiritual para entregar-me a exercícios de um fenomenismo material, magnífico para vós, porém indigno da elevada missão que venho novamente desempenhar entre vós ao abandonar as elevadas regiões onde a vontade do Pai me colocou.”
“Oh! Não me rechaceis, pois, não rechaceis minha palavra, que é hoje a mesma de ontem, porquanto fui sempre vosso Messias, o filho de Deus que haveis desconhecido, o Enviado de meu Pai, o Revelador da eterna verdade, assim como da vontade divina. Não rechaceis, pois, minhas palavras, porque rechaçaríeis a palavra de Deus. Vinde a mim de preferência pela humildade e pelo amor; chamai-me com a alma, que sempre me encontrarei onde dois ou mais se reúnam em meu nome. Não vos enganeis, pois, porque o que agora vos digo já antes vos disse. Não vos ofusquem a vaidade e os interesses mundanos. Desprendei-vos de vossas paixões e do apego dos bens materiais. Pensai em mim com sinceridade e com amor e me reconhecereis.”
JESUS DE NAZARETH.
Observação: O Sr. Ernesto Volpi, cavaleiro e distinto chefe do exército italiano, também diretor do Vesillo Spirita, disse que nenhum cristão deve carecer de um exemplar da VIDA DE JESUS DITADA POR ELE MESMO e que dela deveriam publicar-se numerosas edições em todos os idiomas, não se podendo fazer maior bem que o de sua divulgação.
Do livro: VIDA DE JESUS DITADA POR ELE MESMO – Páginas 320 a 325

domingo, 25 de setembro de 2011

A Morte Revela ao Espírito o seu Passado e o seu Futuro

Irmãos meus, a morte revela ao espírito o seu passado e o seu futuro.
A morte devolve a alma e o espírito à natureza que lhes é inerente; uma contemplativa, a outra laboriosa; as duas se alimentam do princípio espiritual, até sua próxima nova dependência da natureza humana. A morte guarda ao espírito suas lembranças consoladoras e do mesmo modo as funestas. Para um ser malvado a lembrança é um castigo; para os fortes e os justos é o consolo e o engrandecimento.
Os desviados do sentido moral, os famintos de alegrias mundanas, os indignos possuidores das faculdades intelectuais, os heróis assassinos, todos os ímpios por ociosidade, todos os incapazes por covardia, encontram-se dominados pelo terror na vida espiritual, até sua primeira correção do orgulho, que assinala a primeira impressão corroborante de sua alma, o primeiro esforço de seu espírito, para compreender algo mais que o rodeia.
A Terra recebe em seu seio espíritos pervertidos, marcados com um estigma pela justiça de Deus e que somente se apagará depois de numerosas estadas entre os homens.
Além destes dois aspectos da humanidade terrestre, os espíritos se distinguem por seus graus de adiantamento.
Imediatamente depois dos espíritos demasiado novos para compreenderem o princípio espiritual, temos o espírito preguiçoso, o espírito cético por orgulho, o espírito supersticioso por fraqueza, todos responsáveis por seus atos e que podem melhorar na vida espiritual. Os inteligentes, os investigadores, os sábios, os apóstolos e os Messias adejam nas mansões materiais e constituem o foco do progresso. Os espíritos considerados capazes de colaborarem no progresso universal, encontram-se repartidos e colocados nos mundos carnais, de acordo com as forças de que cada um dispõe e segundo o adiantamento moral que deve resultar de sua ação nos determinados centros humanos, mediante o bom cumprimento de sua missão. A esses corresponde penetrar o mistério da vida e da morte, não obstante as trevas que os rodeiam; corresponde-lhes também fazer reconhecer e adorar o princípio criador e inteligente, fonte de ciência e de imortalidade, reduzir a pó os ídolos e levantar um templo a Deus.
A Terra teve e tem ainda muitos Messias, apóstolos, cientistas, investigadores e inteligentes.
Estes espíritos meditativos ou agitadores, que trazem a boa nova para o futuro, raras vezes se veem honrados e seguidos durante sua passagem humana. Quase sempre se extinguem em uma obscuridade miserável ou morrem ignominiosamente diante do povo.
Já fizemos a narração da morte de Jesus tendo por espectador o povo; ocupemo-nos, irmãos meus, da felicidade de Jesus depois da sua morte corporal e das recordações que conservou, depois de séculos de transfiguração, sem exagerar a parte desta confidência de meu espírito para com os vossos espíritos.
A matéria dorme para sempre, a alma e o espírito dormem durante uma temporada limitada pela justiça divina.
A alma e o espírito de Jesus dormiram durante algumas horas.
O apagar-se das cenas terríveis a que havia assistido Jesus como ator principal foi o primeiro benefício de seu despertar e a certeza de sua felicidade veio-lhe da recordação de sua memória.
Jesus esquecia seu recente passado, entretanto recordava as promessas feitas à sua laboriosa atuação. Jesus nada percebia já das torturas humanas e sua alma parecia voltar a um formoso sonho ao mesmo tempo que seu espírito buscava o motivo do movimento que produzia a seu derredor e a causa das excitações de sua vontade para sacudir o entorpecimento que o mantinha imóvel.
Pouco a pouco o sentimento de sua própria força se misturava com os desejos de Jesus, e se manifestou sua presença com uma invocação de poucas palavras:
“Meu Pai.”
Muitas vozes lhe responderam:
“Deus te ama e te abençoa!”
Muitos rostos se inclinaram sobre o meu, reconheci-os e lhes sorri... E a luz feita tornou-se mais intensa.
Não é esta a oportunidade para indicar os perigos e os escolhos de qualquer manifestação provocada com propósitos fúteis de curiosidade ou de interesses materiais, porém, o que devo afirmar é que espíritos de luz não empregam as manifestações materialmente comprovadas senão para a glória de Deus e em cumprimento de um dever fraternal.
Jesus havia conservado relações de século em século, porém não podia deter os movimento de revolta, nem moderar os efeitos do abuso de autoridade, pois que sua mediação direta e persistente não conseguia vencer as dificuldades da hora muito prematura, para desempenhar-se como verdadeiro parlamentário.
Muitas vezes, no século em que nos encontramos, tentou manifestar-se. Estas experiências foram funestas; e ainda no dia de hoje sua narração contém abstrações de forma, juízos incompletos, porque o espírito depositário, lutando sem descanso contra obstáculos materiais, precisava que Jesus usasse de cautela ao fazer chegar sua palavra, para que o mesmo depositário não tivesse que sucumbir sob o peso de emoções fortes e muito repetidas.
As honras da mediunidade não se adquirem sem causar transtornos ao organismo humano e esses transtornos determinam frequentemente o desequilíbrio das faculdades mentais.
Espantosos sofismas preparam as tempestades; Jesus faz ouvir sua voz de apóstolo de Deus à Humanidade, da qual é sempre o Messias, e isto pelas expansões de seu espírito em um espírito humano. Este espírito depositário possui todas as faculdades inerentes à compreensão das obras de Jesus. É de condição obscura entre os homens e encontra-se ligado a Jesus por dependências de ordem espiritual.
Irmãos meus, abençoai a majestosa aliança de vosso Messias com Deus e colhei os frutos da doce aliança de Jesus com um espírito humano.
Cumpri minha palavra em manifestar-vos porque vim neste tempo e em tal lugar, melhor que em outro.
Devo acrescentar que vossa atual situação atrai a compaixão de todos os espíritos dignos do amor de Deus.
Que a paz seja convosco, irmãos meus.
Jamais esta palavra foi de uma aplicação tão necessária.
Que a paz seja convosco e que a ciência vos abra os caminhos da felicidade.
Que a paz seja convosco! E que a morte daqui vos dê a vida livre sob os olhares de Deus.
FIM DA PRIMEIRA PARTE
Do livro: VIDA DE JESUS DITADA POR ELE MESMO – Páginas 312 a 319

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

A festa de Páscoa

A festa de Páscoa devia ter lugar, nesse ano, nos últimos dias de março e primeiro de abril (exprimo-me de modo a ser entendido). Quis, como era costume, ir a Jerusalém; porém, não ignorava que a ordem de prender-me seria expedida e que o decreto de morte já tinha sido pronunciado.
Nicodemos, José de Arimatéia e seus amigos, em número de quatorze, haviam-se abstido de qualquer deliberação, não querendo comprometer os meios de servirem-me nos últimos momentos, de salvarem-me talvez. Depois de terem-se esforçado em fazer mudar as disposições do povo a meu respeito, eles recorreram a Pôncio Pilatos, que lhes deu esperanças.
Os dezesseis foram substituídos e ao tribunal reuniram-se dez membros suplentes. Todos condenaram a Jesus como impostor, sedutor, aliado do espírito das trevas.
No domingo, vinte e sete de março, teve lugar nossa partida de Betânia.
Não é verdade que eu estivesse montado em um jumento, porém é certo que me foi proposto, recusando eu o oferecimento. Muitos se apinhavam a meu redor. Ramos com folhas e flores caíam aos meus pés, e o povo de Jerusalém unia-se ao povo nômade para cumular-me de entusiastas demonstrações. O povo é sempre imitador e instrumento. Reproduz-se com seus instintos atávicos e obedece a interesses que não são os seus. Por momentos escravo embrutecido ou déspota insensato, o povo conhecerá a verdadeira força somente mediante os benefícios da educação moral. A educação moral encandeia os instintos e desenvolve a razão.
Uma das primeiras pessoas que reconheci no meio da multidão, que vinha ao nosso encontro dos arredores da cidade, foi meu irmão Eleazar.
Este dia converteu-se depois para mim numa responsabilidade gravíssima. O povo que se havia demonstrado entusiasmado por minhas últimas honras, acusou-me depois, perante Pôncio Pilatos...
Na tarde de domingo (27 de março) combinamos passar a noite em Jerusalém. No dia seguinte me vi assediado para que deixasse aquelas paragens para sempre; permaneci imperturbável e essa espécie de delírio que precipitava minhas palavras, passou mais tarde como profecia.
Prometi a Marcos chamá-lo o mais depressa possível ao reino de meu Pai...
Meus discípulos de Galiléia juravam todos que me rodeariam e me defenderiam até derramar a última gota de seu sangue. Acolhi estas manifestações com um melancólico sorriso e nada respondi. Depois, dirigindo-me a minha mãe, disse-lhe:
“Tu tens entre os companheiros de teu filho, minha mãe, um filho e um irmão que te recordarão o ausente e viverás para que não seja negada minha ressureição como espírito...”.
De meus discípulos da Galiléia, Judas foi o único que não me acompanhou a Gestsemani, na manhã de segunda-feira. Alcançou-nos à tarde e sua atitude chamou a atenção de Pedro, que me disse: “Que tem, pois, Judas? Olhai-o quão preocupado está”.
Aproximei-me dele e perguntei-lhe por que nos havia deixado no momento de nossa partida de Jerusalém.
“Tinha ainda que visitar algumas pessoas, disse-me, e por outra parte eu tinha desejos de me informar das últimas disposições tomadas a nosso respeito. Elas são de tal natureza que nos tiram toda a esperança de poder fugir à vingança dos nossos inimigos.”
“Tu não deves estar triste por uma solução que eu tenho procurado, disse eu. Mostra-te animado no momento do perigo e guarda a lembrança do Mestre quando já não me encontre convosco.”
Estendi a Judas a mão, que ele apertou fracamente; seu olhar esquivou-se de mim. Entendi...
O lava-pés era uma das instituições de João; uma demonstração da igualdade humana. O senhor é o irmão do seu servo. A posição social deixa de existir quando se trata de adorar a Deus.
... O afeto de meus discípulos de Galiléia era sincero; mas duvidei, com razão, de sua firmeza.
“Pedi os tesouros de Deus e desprezai as riquezas da Terra. Quem pretenda elevar-se entre os homens, será humilhado diante de Deus.”
“Não devolvais jamais mal por mal, mas forçai a vossos inimigos que vos respeitem.”
“Vós sois meus apóstolos e meus discípulos; eu terei que contar convosco e não obstante... eu sei desde já que muitos de vós me atraiçoarão.”
Encontrava-me à mesa, rodeado pelos doze; meu tio Tiago formava o décimo terceiro e estava para partir o pão e começarmos a refeição. Meus apóstolos levantaram bruscamente:
“Senhor! Senhor! – prorromperam. – Por que nos causas esta tortura? – Por que chamar-nos traidores, depois de haver-nos confiado o êxito de tua obra?”
“Os que me atraiçoarem por fraqueza, respondi eu, se arrependerão; somente o que tenha me atraiçoado por vingança, sucumbirá sob o peso de seu delito”.
Judas mantinha os olhos baixos, porém ninguém prestou atenção além de mim. Judas, que se encontrava a minha direita, serviu-se em primeiro lugar. João, colocado a minha esquerda, como sempre, inclinou-se para mim e disse: “Em qual de nós pensaste tu, ao falar de traição?”.
Respondi a João:
“O que me atraiçoará ocupa neste momento um lugar de honra, porém, outros também me atraiçoarão mais tarde e muitos me abandonarão covardemente ao longo do caminho do sacrifício.”
Continuei servindo os meus apóstolos e insisti para que me deixassem nessa tarefa. Pedro, a minha frente, estava distraído; não comia nem bebia; dirigi-lhe estas palavras:
“Tu já não és o pescador de peixes, amigo meu, estás aqui convertido em pescador de homens. Tuas redes serão agora argumentos e recolherás em tua barca aos pobres náufragos...”.
Era meia-noite quando enxugamos os pés de meus apóstolos. Digo enxugamos porque meu tio Tiago, cuja ternura por se associava a um profundo sentimento de devoção prática, me ajudava todas as vezes que devia manifestar com uma tarefa pessoal, o culto de uma ideia religiosa. Nesta ocasião suplicou-me que lhe cedesse a maior parte do sacerdócio; é a palavra que empregou.
“Vós sois minha carne, sois meu sangue, dizia eu, meu espírito está em vós e todas as potências da Terra não conseguirão predominar sobre o vosso poder, que será universal”.
Irmãos meus, o sentido destas palavras: Vós sois minha carne, meu sangue, meu espírito, o sentido destas palavras, repetidas muitas vezes durante meus últimos dias, foi tergiversado, com o fim de erigir um dogma ímpio e ao mesmo tempo falho de razão.
“Fazei todas as cousas em meu nome, obrai como se me encontrasse visivelmente entre vós”, são formas que eu empregava com frequência, para dar à presença de meu espírito a autoridade da lembrança de minha vontade imutável...
Manifestei a Judas meu desejo de percorrer com ele o caminho até o jardim de Getsenami e apoiei-me em seu braço. Falamos de cousas inteiramente secundárias, durante quase quarenta minutos de caminhada, depois sentei-me à sombra de uma figueira e meus apóstolos tomaram assento sobre diversos montões de pedras. Judas afastou-se de mim; eu havia previsto isso.
Levantei-me depois de alguns instantes de descanso, chamando Judas meu companheiro de jornada. Foi chamado inutilmente.
Então pronunciei palavras de acusação que não podiam ser alteradas por nenhuma dúvida, dada a sua clareza.
“Aquele que vós chamais está aqui perto, ele está para chegar. Quando o vejais, a vítima será entregue ao verdugo.”
Os gritos, as imprecações de meus apóstolos ouviram-se ao mesmo tempo que chegava até nós o ruído do passo pesado de muitos homens, Judas não apareceu; tinha-lhe faltado a audácia do delito no último momento.
Os soldados, com divisas romanas, eram em número de oito; dois familiares do Santo Ofício os acompanhavam; estes últimos apontaram-me à tropa armada e um soldado deitou-me as mãos. Pedro agrediu este homem; eu me apressei em repreender a meu apóstolo com estas palavras:
“Acalma-te, amigo meu, a resistência é inútil. Sem curvar a cabeça como culpados, convém saber sofrer a lei humana com resignação”.
João enlaçou-me com os braços, meu tio Tiago implorava a Deus, de joelhos e meu irmão deitou a correr em direção a Jerusalém. Todos os outros pareciam presa do terror. Mateus, Tomé, Alfeu, Tiago, o irmão de João, acompanharam-me até a casa do Sumo-Sacerdote Caifás; Lebeu, Felipe, Judo, Simão, irmão de Pedro, voltaram a Getsenami. Depois de minha morte foram juntar-se com os que estavam escondidos em Jerusalém.
Fizeram sentar meus discípulos em um banco do pátio e a mim introduziram-me em uma espaçosa sala, onde se encontravam reunidos Caifás, o Sumo sacerdote Anás, genro de Caifás, e uma delegação do Sinedrim composta de vinte membros. O Sumo-Sacerdote procedeu imediatamente ao meu interrogatório.
Meu tio Tiago renovou diante de todos o juramento de antes morrer que renegar sua aliança comigo. Arrastados por este ato de coragem e lealdade, Marcos, Alfeu e Tomé assentiram que eram meus discípulos e acrescentaram que não me abandonariam.
Expliquei a Pôncio minhas inspirações de criança, meus estudos de homem, minhas alianças, minhas esperanças de espírito na luz infinita; fiz-lhe, a grandes traços, um extrato de minha doutrina, das relações entre os mundos e os espíritos, e apresentei a morte ignominiosa, que me esperava, como o glorioso coroamento de minhas honras como Messias.
“E se eu consegui salvar-vos?” – interrompeu Pôncio.
“Não o intentes, respondi-lhe eu, tu mesmo te verias arrastado pelo furacão popular... escuta...”.
Pôncio sorriu desprezivelmente. “Consente em viver retirado, disse, ganharei tempo e empregarei a força.”
“Por outra parte, acrescentou Pôncio, tive um sonho a noite passada a teu respeito e sinto que uma pesada responsabilidade me pertence no presente e para o porvir.”
“Esses sacerdotes que querem a tua perdição me desprezarão por haver tido medo deles; este povo se arrependerá e a posteridade me acusará, quando menos, de fraqueza.”
“A posteridade, exclamei, saberá que tu me ofereceste a vida e que eu quis morrer.”
“Para mim, a morte é uma auréola; para mim a vida seria uma deserção, uma covardia, uma queda irreparável.”
Levantei-me indicando assim eu mesmo o fim da entrevista, e acrescentei:
“Da casa de meu Pai, na qual estou para entrar, te abençoarei, porque compreendeste a verdade e a defendeste com coragem.”
Muitos me bateram, um cuspiu-me no rosto.
Ao cabo de duas horas de diversões abjetas e cruéis me despiram de minhas vestes e sobre o meu corpo, completamente nu, aplicou-se a tortura da flagelação. Duas lágrimas me queimaram as faces. Foram as últimas.
Era meio-dia quando cheguei ao Gólgota.
Minhas forças estavam exaustas e não me haviam permitido levar o instrumento de meu suplício, que era um tronco de árvore, dividido e ajustado em forma de cruz, e eu mal podia suster-me em pé, quando meu corpo desnudo foi exposto as zombarias mais ignóbeis da mais asquerosa plebe.
Divisando minhas santas companheiras e minha mãe protegida e amparada no meio delas, Tiago, o digno irmão da heroica Maria, Marcos, Pedro, os dois filhos de Salomé, abençoei os arrependidos e, mais do que nunca, acreditei na inquebrantável fidelidade futura de todos.
Dois delinquentes sofriam ao meu lado o mesmo suplício; porém, contrariamente ao que se dizem, eles não me insultaram.
Meus olhos se nublaram: uma opressão mais violenta que as outras me confundiu e adormeci nas trevas humanas para despertar no seio das luminosidades divinas.
Eram mais ou menos três horas.
Do livro: VIDA DE JESUS DITADA POR ELE MESMO – Páginas 290 a 312

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

VIDA DE JESUS DITADA POR ELE MESMO - 1ª PARTE - CAPÍTULO XIV - RESUMO

Hoje, irmãos meus, a doutrina de Jesus, mal compreendida no princípio, tanto pela natural fraqueza de Jesus, como por efeito de seus mais zelosos defensores, A DOUTRINA DE JESUS, REPITO, É MAL CONHECIDA ATÉ O PONTO DE QUE JESUS É UM DEUS PARA ALGUNS, UM LOUCO PARA OUTROS E MITO PARA OS DEMAIS.
“Chamais a vós mesmos os sacerdotes de Deus, os privilegiados do Senhor, e amontoais riquezas sobre riquezas e incensais aos déspotas e conquistadores.”
No meio de outros excessos de linguagem, Jesus acusava os pobres de seguir uma miséria aviltante, sem combatê-la com o trabalho e com as economias do trabalho.
“Para trás, traficantes das cousas santas no templo do Senhor!”
“A casa de meu Pai é uma casa de oração e vós a converteis em covil de ladrões.”
“... Ai de vós e todos os que converteram a religião em um meio para adquirir fortuna temporal!”
A voz de Jesus tomava então uma entonação vibrante e seus gestos tornavam-se ameaçadores. Em nenhuma época de sua vida de apóstolo encontrou tanta amargura em sua alma e tanta indignação em seu espírito, ao revelar as vergonhas da Humanidade, armando-se contra ela com as prerrogativas que lhe davam a sua missão e a ciência divina.
“Sois fracos e ferozes. À ignorância da juventude ajuntais a perversidade do orgulhoso, do avaro, do ambicioso do dissoluto, do assassino.”
“Combateis pela glória alheia! – Que é essa glória?”
“Uma espantosa demência, um monstruoso assassinato.”
“Adorais um Deus! – Quem é esse Deus?”
“Uma imagem formada por espíritos em delírio, um ídolo frequentemente furioso, sempre fácil de tranquiliza-lo, acessível a todas as queixas, disposto a todas as concessões. Um ídolo adornado com vossos próprios vícios.”
“Os altares de vosso Deus estão inundados de sangue e vós lhe dedicais até sacrifícios humanos.”
“Ah! – Causa-me horror! – Empenho-me por adiantar o momento de minha morte, sabendo bem que ela será dolorosa, pois somente depois dela eu me verei livre de vosso vínculo, rota uma fraternidade que me é odiosa, e entrarei na glória de meu Pai.”
“Não penseis que eu temo a morte; mas assusta-me vosso porvir.”
“Não penseis que eu abrigo a intenção de livrar-me de vossos ódios, mas compreendei e recordai isto: Eu voltarei depois de minha morte. Os que me reconheçam serão perdoados. Compete ao filho de Deus levantar o pecador e abençoá-lo, facilitar-lhe o arrependimento e proteger os fracos.”
Irmãos meus, a palavra de Jesus torna-se sentenciosa e profética à medida que ele se vai aproximando do termo da sua vida terrestre, ao mesmo tempo que suas afirmações se veem livres prontamente do temor das perseguições e pelas preferências de seu espírito em favor dos deserdados.
... Outros conheciam as fontes de minha ciência, porém não reconheciam a esta ciência o poder de estabelecer demonstrações tão absolutas e classificavam de orgulhosa pretensão minhas alianças de espírito com espíritos mais elevados.
Meus discípulos de Galiléia (excetuando Pedro) me pareciam incapazes para seguir minhas prescrições. Sua inaptidão tornava-se ainda maior pelos deploráveis ciúmes, e sempre me havia custado muito trabalho uma aparência de união entre eles. João e o irmão preocupavam-se mais que tudo, em procurar os meios de elevar-me ante a posteridade e prediziam que eu ressuscitaria, corporalmente, aos três dias depois de minha morte. Mateus e Tomé me estimavam, me veneravam com uma espécie de adoração; porém não acreditavam em minha lucidez a respeito do que se relacionava com o porvir. Felipe dizia que era impossível realizar alguma fundação com elementos conservadores tão limitados. Judas e Simão, irmão de Pedro, Alfeu e Lebeu, permaneciam indecisos sobre muitos pontos da doutrina. Judas buscava mais que nunca, poucos dias antes de nossa saída, algum testemunho de afeto. Ai de mim! Olvidei-o no meio de tantas preocupações. Meus amigos de Galiléia eram superiores, em méritos espirituais, a todos os meus discípulos da Galiléia.
A casa de Simão havia-se enchido, devido a mim, de consolos e esperanças... Todos os que encontrei nesta casa foram-me fiéis e serviram-me com dedicação. Maria morreu pouco tempo depois de mim. Maria e Simão encontraram forças nas manifestações espirituais, que eu lhes havia prometido.
Irmãos meus, permaneçamos compenetrados da graça divina, porém procuremos não ver nela um desvio da Natureza. A demonstração dos destinos humanos pode ser feita somente pelos delegados de Deus a espíritos preparados para receber esta demonstração; e todos os espíritos terão que percorrer o caminho que leva as honras da elevação, feito pelos delegados de Deus. A ideia manifestada com a palavra milagre não existe em nosso pátria, onde as leis do desenvolvimento e as da desorganização são reconhecidas como invioláveis ...
“Ide à casa do pobre para consolá-lo e abençoá-lo.”
 “Não vos intrometais nas cousas temporais a não ser para reunir novamente o que tiver sido desunido e para facilitar a concórdia entre os homens.”
“Sede sóbrios e discretos, porém não vos imponhais sacrifícios inúteis.”
“Tomai-me meu exemplo e segui-me, do contrário não sereis meus discípulos. Sou pobre, permanecei pobres, sou perseguido, sofrei as perseguições, e espalhai entre todos os homens a esperança, a paz, a luz do espírito.”
Irmãos meus, o amor de Deus converte a alma humana em criadora, depois de havê-la subjugado sob as provas de um desenvolvimento dolosamente laborioso.
Oh, Deus meu! Quanta distância entre este pedestal levantado por teu amor às gerações ascendentes e os abismos formigando de insensatos mal-humorados, de inimigos desapiedados, de heróis monstruosos. Quanta distância entre o esplendoroso vestíbulo de tua morada de glórias eternas e estas trevas de espanto, onde teu nome, pronunciado com hipócrita doçura, é acolhido pelas risadas estúpidas de uma multidão que exala nuvens de pó e rios de sangue.
Dentro em pouco voltarei. Concluo aqui meu décimo quarto capítulo.
Do livro: VIDA DE JESUS DITADA POR ELE MESMO – Páginas 277 a 290

terça-feira, 20 de setembro de 2011

VIDA DE JESUS DITADA POR ELE MESMO - 1ª PARTE - CAPÍTULO XIII - RESUMO

João morreu assassinado pelos que ele havia apontado ao desprezo do povo, um ano depois da sua entrevista com Jesus.
Este quis então tomar a direção dos discípulos de João e juntá-los aos seus; porém teria que vencer a obstinação de espíritos sem capacidade e sem grandeza moral pelo que se viu obrigado a renunciar a isso.
Repito, os discípulos de João demonstraram-se muito superiores aos discípulos de Jesus. Deixando de lado o fanatismo que afastava o pecador da esperança em Deus e o exagero censurável das práticas, eles possuíam todas as qualidades do espírito que determina a inviolabilidade da consciência.
“Muitos de vós verão o reino de Deus; mas compreendei bem minhas palavras; estas palavras são de todo o tempo, porque o espírito é imortal; a vida sucede à morte; a luz dissipa as trevas; o santo nome de Deus será bendito por toda a Terra.”
“Afastai-vos dos falsos profetas. Reconhecê-los-eis facilmente. Eles anunciam sempre a fome, a peste e todos os flagelos. Invocam a cólera de Deus sobre os que tenham prevaricado e sobre os homens que investigam os desígnios deles, para dar a conhecer sua velhacaria.”
“Agora vos digo: Deus não tem senão amor para suas criaturas. Ele castiga-as sem pesar para conduzi-las ao arrependimento. Todos colhem em um tempo o que tenham semeado em outro tempo.”
“Felizes os que desejam a graça e saibam merecê-la. A verdade lhes será revelada e eles a espalharão para confundir os maus e os hipócritas, para instruir os ignorantes, para consolar os pobres e os pecadores, para facilitar aos justos os meios de fundarem o reino de Deus sobre a Terra.”
Do livro: VIDA DE JESUS DITADA POR ELE MESMO – Páginas 262 a 277

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

VIDA DE JESUS DITADA POR ELE MESMO - 1ª PARTE - CAPÍTULO XII - RESUMO

José e Andréa preparavam as humilhações que amarguei mais tarde, referindo lamentáveis episódios de minha infância, referentes aos últimos dias de meu pai e ao abandono de minha mãe.
... A vida humana encerrada nos limites impostos pelo Criador é um descanso em meio do caminho da imortalidade.
... Porquanto eu sou sempre o Messias, filho de Deus, que baixa da luz para amparar tudo o que já amparei, para defender tudo o que já defendi, para combater tudo o que por mim já combatido.
... O espírito liberto das sombras da natureza humana ilumina-se de luz divina, não lhe sendo já possível desviar-se por ignorância nem diminuir-se por temor das crueldades dos espíritos humanos.
... Minha mãe encontrava-se em Jerusalém devido a um chamado de Maria de Magdala. Ela era tomada nesses momentos duma inquebrantável vontade. Negou-se a voltar para Nazareth e me vi obrigado a contemplar até minha morte essa sua tristeza que constituía uma viva censura para meu sacrifício, essa dor que penetrava em minha alma, enfraquecendo-a. Maria de Magdala empregava, ante mim e minha mãe, toda essa energia que pode arrancar-se da paixão e de toda essa doçura e suavidade que nasce da prece.
Maria de Magdala não era estimada somente por minha mãe: todos os meus discípulos e as mulheres vindas da Galiléia a estimavam.
Propus a minha mãe que me acompanhasse a Betânia, para que não oferecesse a meus irmãos um apoio com sua presença, porquanto não dissipava neles o desatinado propósito de seguirem-me.
Depois de nossa última entrevista em Nazareth, minha mãe alimentava um só desejo: salvar-me da morte. A descoberta que ela fez do profundo afeto de Maria proporcionou-lhe uma esperança a qual associou todos os outros recursos pessoais, que considerou úteis para seus fins.
... e minha mãe, minha terna mãe, impregnada das teorias de uma religião imperfeita, não podia, apesar de sua confiança em mim, renunciar a tudo o que havia acreditado e praticado até então.
A liberdade da alma adquire-se por meio da força intelectual do espírito.
... entendo determinar força intelectual do espírito, alimentando-a com o desejo fervoroso de conhecer as origens e imprimindo-lhe o cunho de uma vontade inalterável de avançar sempre e mais.
Se minha mãe houvesse facilitado minha missão com sua fé, irmãos meus, ter-me-ia poupado uma grande amargura durante as lutas de meus últimos dias... Se minha mãe e Maria de Magdala se tivessem associado em toda a plenitude da fé, dentro de minhas crenças, meu espírito ter-se-ia mantido à altura de minha família espiritual, mas pelo contrário a tendência carnal desses dois amores diminuiu minhas forças e preparou minha fraqueza sobre o madeiro do sacrifício.
... O fanatismo, que consiste em uma fé ardente privada da razão, dever ser considerado como uma enfermidade do espírito. A fé verdadeira jamais se separa da razão.
... vós exibis o espírito humano ao desprezo das grandezas universais, porque o espírito humano pratica ou aprova o homicídio.
A família humana ultrapassa todos os erros da razão, quando afirma o direito de morte.
Deus, árbitro soberano dos espíritos, concede-lhes o corpo como instrumento, e o corpo conserva-se mais ou menos tempo, segundo a direção que lhe é impressa pelo espírito e o lugar habitado pelo espírito e pelo corpo.
Vis assassinos, defensores embrutecidos de alguma causa má, defensores sagazes de uma causa incompreensível, heresiarcas realmente convencidos ou valentes apóstolos de uma falsa religião, que julgais verdadeira, todos vós sois mais ou menos culpados diante de Deus e Deus vos julgará.
Justiça dos homens, quando chegarás a ser uma cópia da justiça de Deus?
Irmãos meus, que um homem depravado levante sua mão sacrílega contra uma vida humana, não significa de maneira alguma que uma quantidade de homens tenha o direito de matar o assassino, porque o direito de morte só pertence a Deus e não pode ser um meio para uso das criaturas. Qualquer que seja a forma dada ao assassino, o direito de assassinato não pode existir, porque Deus não pretendeu alterar tacitamente e segundo as circunstâncias, as palavras: Tu não matarás. Conclusão: A aplicação da pena de morte é um insulto ao Criador.
Outra conclusão derivada do mesmo mandamento, tu não matarás, é: A guerra e todos os atos que inundam a Terra de sangue constituem negações do princípio divino e ao mesmo tempo asquerosas saturnais do espírito em delírio...
... Nosso destino, é certo, apoia-se no passado, mas é também incontestável que ele melhora ou se agrava devido às honras ou às vergonhas do espírito e que estas honras e estas vergonhas preparam o porvir.
... Porém, repito, eu podia fugir, e se minha hora estava próxima era porque, querendo elevar-me pelo martírio, via que não era possível alongar a luta.
... Por que os Messias estão destinados a grandes sofrimentos nos mundo inferiores? Porque os Messias trazem verdades e nos mundos dominados pelas tradições da ignorância não podem ser aceitas as verdades senão a força de trabalhos, de humilhações, de lutas heroicas e de longa desesperação, até à morte, quaisquer que sejam as peripécias desta morte.
Regressei a Betânia...
Chegamos à tarde e não obstante a primorosa acolhida de meus discípulos, o abraço efusivo de minha mãe, a emoção das outras mulheres, apercebi-me de um mal-estar geral.
“Mas Simão, exclamei, onde está Simão?” – Marta, inundada de lágrimas, saiu de um aposento contíguo ao que ocupávamos. “Vem, disse ela, pelo menos ele morrerá tranquilo, visto que te chama.”
Maria, minha pobre pequena Maria, atirou-se aos meus braços gritando: “Salva-o, Jesus, salva-o!”
Arredei Marta e Maria e entrei no quarto de Simão. Meu amigo era presa de uma febre ardente, porém tranquilizei imediatamente a todos tornando-me responsável pelo seu restabelecimento. Coloquei-me a seu lado, permanecendo assim durante algumas horas e fiz-me senhor desse delírio, que não anunciava nenhuma lesão mortal. Qualquer outro, conhecedor como eu das ciências médicas, teria obtido o mesmo resultado.
Seis dias depois Simão encontrava-se convalescente e a eficácia da minha cura foi reconhecida com o mesmo entusiasmo que sempre dava a meus atos mais singelos, uma transcendência funesta para minha segurança presente e para minha dignidade de espírito perante a posteridade.
Para celebrar o restabelecimento de Simão, Marta teve a ideia de dar um banquete no qual deviam honrar-me...
Éramos muitos neste banquete. Tomaram parte nele vários parentes, alguns notáveis da povoação, todos os meus discípulos da Galiléia, Marcos, José de Arimatéia, minha mãe, Salomé, Verônica, muitas amigas e companheiras de Marta, formando enfim um total de trinta nove pessoas. Marta, que devia completar o número de quarenta, preferiu, segundo seus desejos ao terminar os preparativos, a honra de servir-me, conjuntamente com Maria de Magdala, Joana, Débora e Fatmé.
Maria, irmã de Simão, permanecia quase constantemente detrás dele, o qual estava sentado a minha frente, no centro da mesa.
... e depois de haver contentado a Simão, ouvi como um soluço a meu lado. Voltei-me e vi Maria. Ela se havia separado de seu irmão para acercar-se de quem havia sido chamado salvador; sua gratidão, seu culto se traduziam em acentos entrecortados, em espasmos da voz, e seu espírito sobre excitado por minhas demonstrações, vinha implorar o apoio de minha força contra a violência de suas ilusões. Tomei a menina em meus braços, sua cabeça inclinou-se e seus cabelos soltos formaram uma moldura de ébano a seu rosto inanimado. Todos os olhares ficaram fixos e os peitos ansiosos, à espera do desenlace de tal crise, cujo termo se anunciou com algumas lagrimas e um fraco rubor da pele. Maria despertou como de um sono, sem compreender a emoção de que havia sido causa, e também com um sentimento de felicidade. Expliquei a Simão a extremada sensibilidade da irmã e indiquei-lhes, com insistência, que não deviam jamais contrariá-la bruscamente em suas excentricidades, a essa alma tão exuberantemente dotada, a esse espírito tão despoticamente governado pela alma.
Do livro: VIDA DE JESUS DITADA POR ELE MESMO – Páginas 245 a 261