terça-feira, 6 de setembro de 2011

SOB AS MÃOS DA MISERICÓRDIA

Podem pensar as pessoas de hoje que, segundo as aparências, o importante nesta existência é a conquista de bens e poderes, cujo desfrute compensará todas as mazelas, crimes e violações que foram necessários produzir para obter as tão sonhadas vantagens.
Profissionais ansiosos por riquezas e prazeres que espoliam seus clientes; advogados corruptos que enganam os que lhe confiaram seus pobres direitos, entregando-lhes, como pagamento, pequena porção daquilo que lhes pertence e retendo para si – sob o pomposo nome de honorários – a maior parte daquilo que deveria estar nas mãos dos verdadeiros proprietários. Médicos ávidos por dirigir carros símbolos de “status” a estabelecerem atendimento indiferente e priorizarem os que lhes podem pagar, relegando a dor dos pobres ao patamar inferior até mesmo à dor dos animais.
Políticos de todas as épocas e nações buscando apoio dos humildes e lhes oferecendo esperanças vãs, nas promessas brilhantes que se frustram tão logo eleitos, interessados nos desvios de recursos, no favorecimento de seus apaniguados, na nomeação de seus parentes e amigos, na edificação da rede de sustentação econômico-financeira que lhes dará suporte para a continuidade dos desatinos e das falcatruas, desde que todos saiam aquinhoados e encontrem as vantagens que procuram.
Professores que desencaminham seus alunos, deixando de lhes ensinar o que poderiam, explorando lhes a falta de base, descontentes que se acham com recursos que recebem em troca dos esforços que empenham. Religiosos que vendem artigos de fé e se aproveitam do desespero dos que sofrem para roubar lhes descaradamente as esperanças e os bolsos, estabelecendo a chantagem emocional, valendo-se da figura de satanás como instrumento de pressão e intimidação. Igrejas que enganam fiéis absolvendo-os de seus pecados desde que reconheçam válidos rituais da crença com os quais dizem garantir um lugar no Paraíso.
Comerciantes que trazem imagens religiosas penduradas nas paredes de suas lojas ou que batizam seus negócios com nomes dos santos de sua crença, mas que, em verdade, são donos de verdadeiros abatedouros de vítimas inocentes porque não fazem outra coisa senão espoliar os ingênuos, fraudando o peso, a qualidade e o valor das mercadorias, cobrando valores absurdamente elevados por coisas absurdamente baratas e reconhecendo como virtude ou talento negocial aquilo que, certamente, Jesus chamaria de peçonha ou podridão.
Empresários que espoliam funcionários, que dão golpes em fornecedores e desaparecem sob o manto da falência, funcionários que deveriam respeitar a justiça que dizem incorporar sob suas togas austeras, mas que usam de seus poderes para inclinar a espada da Justiça na direção de interesses menores.
Empreiteiros que corroem recursos desviando dinheiro público para seus bolsos espertos e insaciáveis, deixando de ampliar os benefícios de obras de saneamento, de urbanização, de interesse do povo porque seu interesse individual de lucro e a sanha desmedida de ganhar mais e mais tornou insuficientes os recursos que tinham sido colocados como bastantes para as obras.
Fabricantes de medicamentos que fraudam o conteúdo de remédios ou que multiplicam absurdamente os poucos centavos de seu custo verdadeiro, fazendo-os chegar às mãos dos enfermos por preço milhares de vezes maior do que o que lhes custou a sua fabricação.
Exploradores de fraquezas humanas, que multiplicam negócios escusos para oferecer aos fracos a oportunidade de caírem ainda mais no charco dos próprios defeitos, vendendo bebidas, oferecendo jogatinas, favorecendo o tráfico de drogas, explorando a sexualidade com a permissividade que estimula o prazer através de lugares que o favorecem, de propagandas que o enalteçam, de campanhas que tornem o seu exercício a demonstração do poder ou da capacidade de quem o vivencia.
Publicitários de todas as mídias que homenageiam a degradação para que não lhes falte a audiência e que, para obter o interesse de patrocinadores, permitem que a depravação e os maus instintos sejam apresentados como coisas dignas de elogio ou de divulgação, formando opiniões nos espectadores ingênuos, semeando condutas desonrosas como se fossem coisas normais, traduzindo na linguagem da normalidade social aquilo que representa a degradação da personalidade, explorando as fraquezas emocionais e morais daqueles que, desejando uma diversão inocente que lhes atenue as preocupações de um dia de trabalho exaustivo, se postem diante da televisão ou busquem alguma informação em revistas ou jornais circulantes.
Atravessadores que frequentam mercados e entrepostos na madrugada e perante os quais o produtor do campo vai negociar, ansiosamente, a produção que precisa ser vendida para que não se estrague em suas mãos, perdendo o fruto de seu suor. E depois de terem recebido a mercadoria por preço o mais baixo possível, se sentem no direito de multiplica-lo sem escrúpulos, a fim de que outros venham a adquirir a mesma cenoura para levá-la à feira na cidade, onde o seu preço novamente será multiplicado, até que os gananciosos que não derramaram nenhuma gota do seu suor se sintam felicitados pelos ganhos com a exploração do trabalho alheio.
Homens estudados esmerando-se em fraudar tributos, aconselhando meios de ganhar sem serem alcançados pelas vistas fiscais ou favorecimento com armações e esquemas a remessa de recursos para longe dos países onde deveriam estar sendo investidos para a produção de novos recursos e a diminuição dos dramas do desemprego.
Corporações dirigidas por pessoas inteligentes tornam-se verdadeiros leviatãs sem alma, exigindo o sangue de lucros e metas sempre maiores, não importando se isso vai inviabilizar a manutenção de postos de trabalhos e salários de famílias.
Escritores que se vendem ao gosto dos leitores ávidos por reconhecerem nos dramas do sexo sem freios, das insatisfações amorosas, das falências morais de todos os tipos, a fim de que seu livro seja considerado na lista dos mais vendidos e possa espalhar o seu lixo moral a troco das moedas que farão a tranquilidade dele e de sua família. Sim, porque muitos deles prezam a própria família e seus laços afetivos, ainda que o livro que escreveram tenha pervertido a família alheia e destruído com maus exemplos os liames de afeto na mente dos leitores.
Editores que desejam conseguir os lucros que lhes propiciam as mesmas regalias, a enaltecerem a podridão e o mau odor literário, buscando enfiar goela abaixo algum novo lançamento que produza o interesse das pessoas, mesmo que as aconselhe com imagens nocivas, que lhes estimule a queda ou a manutenção de condutas equivocadas.
Seria infinda a listagem dos comportamentos considerados “normais” na maioria dos que compõem a sociedade de hoje, mas que não passam de repetição criminosa de condutas que frustram sonhos, usam pessoas, corrompem crenças, associam-se para o crime, enganam ou ludibriam, dissimulam ou roubam, vendem-se ou compram, corrompem ou aceitam a corrupção.
A Lei Soberana do Universo, entretanto, sabe de tudo e conhece todos os mais ocultos pensamentos, sentimentos e gestos.
Desse modo, não imaginem vocês, leitores queridos, que é porque o magistrado nos concedeu ganho de causa, que essa absolvição represente a verdadeira inocência.
Nem se iludam achando que, porque ninguém descobriu a sua estratégia espoliativa ou que, pelo fato de suas próprias vítimas os terem perdoado, vocês estão quites com a Lei e nada mais devem.
Para a concepção divina que nos engendrou, tão sagrado quanto é o Livre-Arbítrio é, também, a Responsabilidade pessoal e intransferível pela colheita dos frutos que tivemos liberdade para semear.
Assim é o mecanismo celeste de conceder a todos a oportunidade de viver e escolher os caminhos que acham melhores para seus passos, mas de impor a cada um as consequências de suas boas escolhas, tanto quanto as amargas penas pelas opções mal feitas.
Por isso, queridos leitores, reavaliem essa insana competição por coisas tão mesquinhas, mas que, se lhes permitem o brilho de alguns momentos nos prazeres que alimentam e estimulam, garantirão séculos de lágrimas pelas dores que produzem em seus caminhos.
Pelo espírito Lucius
Do livro: SOB AS MÃOS DA MISERICÓRDIA – Páginas 35 a 39
OBS.: Os negritos dos textos são por nossa conta.

Nenhum comentário:

Postar um comentário