Fala João, o Batista
Venho a chamado de meu glorioso irmão.
Apresentemos neste livro o retrato da forma aparente do espírito, e purifiquemos nosso pensamento com humildade e rapidez.
Jesus era alto de estatura, rosto pálido, olhos negros, cabelos castanhos e a barba, que usava cumprida, era quase vermelha.
A forma da cabeça era larga e energética, a fronte desenvolvida e com pouco cabelo, o nariz reto, os lábios sorridentes e o seu modo de caminhar denotava a nobreza. A pobreza de suas vestes não era suficiente para esconder a riqueza dessa natureza resplandecente de elevação, não obstante a origem humilde de sua família e a modéstia de seu caráter.
Houve mulheres atraídas pelo prestígio de sua beleza física e de sua eloquência, mas elas se ruborizavam diante da natureza de seu espírito e o amor carnal se fundiu com o sentimento de exaltação religiosa. Tu só, ó Maria, introduziste uma sombra nesse coração adorável e do alto da cruz Jesus te dirigiu um olhar de censura e de carinho.
A pátria e a família de Jesus se encontravam em todas as partes.
“Os homens são meus irmãos, dizia, e todos os meus irmãos têm direito a meu amor.”
“Onde estão as leis e os costumes da família de meu país, da pátria de meus progenitores?”
“No livro eterno.”
“E eu vos digo: O que não trate os homens como irmãos, não será recebido na casa de meu Pai.”
“O que diga: Esse homem não é de minha pátria, não entrará na casa de meu Pai.”
“O que faça duas partes: uma para sua família e a outra para si, não gozará dos dons e dos favores do Pai.”
“O que não combata a adversa fortuna em nome da família universal, apegando-se tão somente aos bens de seu pai e de sua mãe, não verá a alegria da casa paterna e não encontrará outra coisa a não ser o abandono e o isolamento depois da morte. Abandonai, pois, a vosso pai, a vossa mãe, a vossos irmãos e a vossas irmãs antes que condescender no olvido da lei de Deus. Esta lei exige o comovedor sacrifício do forte em favor do fraco e da família espalhada por toda a Terra.”
“Eis os membros de minha família, eis os filhos de meus irmãos, dizia ele apontando os homens e as crianças que o rodeavam.”
João era de cor morena, cabelos negros e estatura menor que a mediana. Tinha olhos vermelhos, sombreados de espessas sobrancelhas, o que, unido a sua palidez, davam uma expressão de dureza à sua pessoa. Mas sonoridade de sua voz e a expressão de seus gestos faziam desaparecer pouco a pouco a primeira impressão desagradável para dar lugar ao atento interesse de seus ouvintes e arrastar ao entusiasmo as massas.
Minha habitação foi honrada com a visita de afável figura do Messias um ano antes do meu suplício.
A luz da graça divina iluminava sua fronte e seus lábios sorriam quando me manifestou seu desejo de falar-me em particular.
“A justiça de Deus, disse-me, será honrada em seus decretos quando os homens forem capazes de compreendê-la.”
Eu escutava-o enquanto ele me prendia a mão em sinal de aliança. Apertei essa mão e disse:
“Tu és o que há de vir, ou esperamos por outro?”
“Tuas palavras se gravam em mim e a bondade se encontra em teu olhar”.
Jesus levantou para o céu seus olhos úmidos e carinhosos e em seguida disse-me:
“A paz que vem de Deus se estabeleça entre nós.”
“A luz pura nos mostre a vida eterna como prêmio de nossos trabalhos.”
“A justiça divina nos preservará do temor dos homens e o alto poder nos elevará a alegrias perfeitas.”
“Livremos a Terra de seus obstáculos, libertemos as almas de seus terrores e deixemos de lado os despojos mortais, glorificando a Deus”.
João compreendeu. A justiça de Deus libertou-o mais do que nunca do temor dos homens.
Irmãos meus, acabo de cumprir para convosco uma nova missão, e retiro-me deste lugar, deixando o posto ao divino visitador, que deseja terminar, ele mesmo, a referência de nossas relações.
Adeus irmãos meus, e que a graça seja proveitosa.
A pureza de João, irmãos meus, é filha de sua vida humana e a santidade de seu espírito aumentou muito depois de sua estada na Terra.
Deixei João recebendo sua promessa de purificar seus pensamentos relativos a fraternidade dos homens; prometi que voltaria a vê-lo e me dirigi para Jerusalém.
Eu contava já em Jerusalém com um partido poderoso e devotado, devido mais aos trabalhos de José de Arimatéia do que aos meus méritos pessoais. Minha personalidade ficava resguardada com a desse homem influente, colocado aí, pode dizer-se, para fazer a metade do caminho que me haviam traçado.
José via em mim, um simples reformador da moral, muito se assustou quando lhe expus meus projetos de reforma religiosa.
Algo pessimista e clarividente, ele empregou todos os meios possíveis para que eu renunciasse à mesquinha luta, como dizia, da argila contra o cobre, de uma criança contra uma legião de gigantes. José teve nesses momentos de apreensão a visão de minha paixão e de minha morte e do procedimento desse povo que naqueles momentos era favorável as minhas ideias de melhoramento, porém, cuja estúpida ignorância me definiu assim como sua volubilidade, fundamentada em suas inconstantes impressões e na rusticidade de seus instintos.
As abundantes razões e a lógica decidida de meu amigo caíram por terra diante da minha resolução inabalável.
Ai de mim! – Eu começava a afastar-me da brandura, e a aspereza de meu desígnio dava as minhas palavras a dura expressão da impaciência e da altivez.
José juntou a piedade à aflição e o modo com que suportou meu mau humor deixou-me livre de todo reparo.
A lei de Moisés dizia: Que os reis são designados por Deus para governar os homens.
Eu sustentarei que a igualdade dos homens foi ordenada por Deus e que o mando supremo pertence somente a virtude.
A lei de Moisés dizia: Que os filhos pertencem aos pais, e que a esposa é a escrava do esposo.
Eu direi: Que o espírito pertence a Deus, e que o filho deve abandonar o pai e a mãe antes que infringir os mandamentos de Deus.
Eu direi que a esposa é igual ao esposo e que não existem escravos na família de Deus.
... Minha morte parecia-me útil; fugir-lhe parecia-me vergonhoso e vil.
Minha morte de homem foi a liberdade de meu espírito, e minha elevação foi conquistada no corpo humano.
..., como homem me chegariam sinais de compaixão dos espíritos de Deus, porém, nada de ostensivo poderia dar-me faculdade para desafiar, para mudar a ordem da natureza; como homem, enfim, estaria submetido à lei humana e a justiça de Deus não alteraria, por mim, sua imutabilidade.
Irmãos meus, convém que estejais prevenidos contra a infeliz loucura da superstição. Abandonai as condenáveis ficções das paixões da época e os tristes ensinamentos do passado, e alegrai vosso espírito com o princípio absoluto da fé. Este princípio descansa na eternidade das leis naturais e na perfeição de seu autor, na luz levada pela graça e na eficácia desta luz para o bem geral.
A lei tinha que castigar-me como blasfemador, ninguém teria podido salvar-me. Eu sabia, e as meditações a respeito de minha morte constituíam minha delícia. Ela levava consigo o voluntário sacrifício das afeições terrenas, e minha mãe, meus irmãos e minhas irmãs se converteram para mim, em membros da família humana em meio do pensamento geral e fraterno da união das almas.
Irmãos meus, vos digo: voltarei dentro em pouco.
Do livro: VIDA DE JESUS DITADA POR ELE MESMO – Páginas 96 a 107
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