Hoje, irmãos meus, a doutrina de Jesus, mal compreendida no princípio, tanto pela natural fraqueza de Jesus, como por efeito de seus mais zelosos defensores, A DOUTRINA DE JESUS, REPITO, É MAL CONHECIDA ATÉ O PONTO DE QUE JESUS É UM DEUS PARA ALGUNS, UM LOUCO PARA OUTROS E MITO PARA OS DEMAIS.
“Chamais a vós mesmos os sacerdotes de Deus, os privilegiados do Senhor, e amontoais riquezas sobre riquezas e incensais aos déspotas e conquistadores.”
No meio de outros excessos de linguagem, Jesus acusava os pobres de seguir uma miséria aviltante, sem combatê-la com o trabalho e com as economias do trabalho.
“Para trás, traficantes das cousas santas no templo do Senhor!”
“A casa de meu Pai é uma casa de oração e vós a converteis em covil de ladrões.”
“... Ai de vós e todos os que converteram a religião em um meio para adquirir fortuna temporal!”
A voz de Jesus tomava então uma entonação vibrante e seus gestos tornavam-se ameaçadores. Em nenhuma época de sua vida de apóstolo encontrou tanta amargura em sua alma e tanta indignação em seu espírito, ao revelar as vergonhas da Humanidade, armando-se contra ela com as prerrogativas que lhe davam a sua missão e a ciência divina.
“Sois fracos e ferozes. À ignorância da juventude ajuntais a perversidade do orgulhoso, do avaro, do ambicioso do dissoluto, do assassino.”
“Combateis pela glória alheia! – Que é essa glória?”
“Uma espantosa demência, um monstruoso assassinato.”
“Adorais um Deus! – Quem é esse Deus?”
“Uma imagem formada por espíritos em delírio, um ídolo frequentemente furioso, sempre fácil de tranquiliza-lo, acessível a todas as queixas, disposto a todas as concessões. Um ídolo adornado com vossos próprios vícios.”
“Os altares de vosso Deus estão inundados de sangue e vós lhe dedicais até sacrifícios humanos.”
“Ah! – Causa-me horror! – Empenho-me por adiantar o momento de minha morte, sabendo bem que ela será dolorosa, pois somente depois dela eu me verei livre de vosso vínculo, rota uma fraternidade que me é odiosa, e entrarei na glória de meu Pai.”
“Não penseis que eu temo a morte; mas assusta-me vosso porvir.”
“Não penseis que eu abrigo a intenção de livrar-me de vossos ódios, mas compreendei e recordai isto: Eu voltarei depois de minha morte. Os que me reconheçam serão perdoados. Compete ao filho de Deus levantar o pecador e abençoá-lo, facilitar-lhe o arrependimento e proteger os fracos.”
Irmãos meus, a palavra de Jesus torna-se sentenciosa e profética à medida que ele se vai aproximando do termo da sua vida terrestre, ao mesmo tempo que suas afirmações se veem livres prontamente do temor das perseguições e pelas preferências de seu espírito em favor dos deserdados.
... Outros conheciam as fontes de minha ciência, porém não reconheciam a esta ciência o poder de estabelecer demonstrações tão absolutas e classificavam de orgulhosa pretensão minhas alianças de espírito com espíritos mais elevados.
Meus discípulos de Galiléia (excetuando Pedro) me pareciam incapazes para seguir minhas prescrições. Sua inaptidão tornava-se ainda maior pelos deploráveis ciúmes, e sempre me havia custado muito trabalho uma aparência de união entre eles. João e o irmão preocupavam-se mais que tudo, em procurar os meios de elevar-me ante a posteridade e prediziam que eu ressuscitaria, corporalmente, aos três dias depois de minha morte. Mateus e Tomé me estimavam, me veneravam com uma espécie de adoração; porém não acreditavam em minha lucidez a respeito do que se relacionava com o porvir. Felipe dizia que era impossível realizar alguma fundação com elementos conservadores tão limitados. Judas e Simão, irmão de Pedro, Alfeu e Lebeu, permaneciam indecisos sobre muitos pontos da doutrina. Judas buscava mais que nunca, poucos dias antes de nossa saída, algum testemunho de afeto. Ai de mim! Olvidei-o no meio de tantas preocupações. Meus amigos de Galiléia eram superiores, em méritos espirituais, a todos os meus discípulos da Galiléia.
A casa de Simão havia-se enchido, devido a mim, de consolos e esperanças... Todos os que encontrei nesta casa foram-me fiéis e serviram-me com dedicação. Maria morreu pouco tempo depois de mim. Maria e Simão encontraram forças nas manifestações espirituais, que eu lhes havia prometido.
Irmãos meus, permaneçamos compenetrados da graça divina, porém procuremos não ver nela um desvio da Natureza. A demonstração dos destinos humanos pode ser feita somente pelos delegados de Deus a espíritos preparados para receber esta demonstração; e todos os espíritos terão que percorrer o caminho que leva as honras da elevação, feito pelos delegados de Deus. A ideia manifestada com a palavra milagre não existe em nosso pátria, onde as leis do desenvolvimento e as da desorganização são reconhecidas como invioláveis ...
“Ide à casa do pobre para consolá-lo e abençoá-lo.”
“Não vos intrometais nas cousas temporais a não ser para reunir novamente o que tiver sido desunido e para facilitar a concórdia entre os homens.”
“Sede sóbrios e discretos, porém não vos imponhais sacrifícios inúteis.”
“Tomai-me meu exemplo e segui-me, do contrário não sereis meus discípulos. Sou pobre, permanecei pobres, sou perseguido, sofrei as perseguições, e espalhai entre todos os homens a esperança, a paz, a luz do espírito.”
Irmãos meus, o amor de Deus converte a alma humana em criadora, depois de havê-la subjugado sob as provas de um desenvolvimento dolosamente laborioso.
Oh, Deus meu! Quanta distância entre este pedestal levantado por teu amor às gerações ascendentes e os abismos formigando de insensatos mal-humorados, de inimigos desapiedados, de heróis monstruosos. Quanta distância entre o esplendoroso vestíbulo de tua morada de glórias eternas e estas trevas de espanto, onde teu nome, pronunciado com hipócrita doçura, é acolhido pelas risadas estúpidas de uma multidão que exala nuvens de pó e rios de sangue.
Dentro em pouco voltarei. Concluo aqui meu décimo quarto capítulo.
Do livro: VIDA DE JESUS DITADA POR ELE MESMO – Páginas 277 a 290
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