Irmãos meus, a morte revela ao espírito o seu passado e o seu futuro.
A morte devolve a alma e o espírito à natureza que lhes é inerente; uma contemplativa, a outra laboriosa; as duas se alimentam do princípio espiritual, até sua próxima nova dependência da natureza humana. A morte guarda ao espírito suas lembranças consoladoras e do mesmo modo as funestas. Para um ser malvado a lembrança é um castigo; para os fortes e os justos é o consolo e o engrandecimento.
Os desviados do sentido moral, os famintos de alegrias mundanas, os indignos possuidores das faculdades intelectuais, os heróis assassinos, todos os ímpios por ociosidade, todos os incapazes por covardia, encontram-se dominados pelo terror na vida espiritual, até sua primeira correção do orgulho, que assinala a primeira impressão corroborante de sua alma, o primeiro esforço de seu espírito, para compreender algo mais que o rodeia.
A Terra recebe em seu seio espíritos pervertidos, marcados com um estigma pela justiça de Deus e que somente se apagará depois de numerosas estadas entre os homens.
Além destes dois aspectos da humanidade terrestre, os espíritos se distinguem por seus graus de adiantamento.
Imediatamente depois dos espíritos demasiado novos para compreenderem o princípio espiritual, temos o espírito preguiçoso, o espírito cético por orgulho, o espírito supersticioso por fraqueza, todos responsáveis por seus atos e que podem melhorar na vida espiritual. Os inteligentes, os investigadores, os sábios, os apóstolos e os Messias adejam nas mansões materiais e constituem o foco do progresso. Os espíritos considerados capazes de colaborarem no progresso universal, encontram-se repartidos e colocados nos mundos carnais, de acordo com as forças de que cada um dispõe e segundo o adiantamento moral que deve resultar de sua ação nos determinados centros humanos, mediante o bom cumprimento de sua missão. A esses corresponde penetrar o mistério da vida e da morte, não obstante as trevas que os rodeiam; corresponde-lhes também fazer reconhecer e adorar o princípio criador e inteligente, fonte de ciência e de imortalidade, reduzir a pó os ídolos e levantar um templo a Deus.
A Terra teve e tem ainda muitos Messias, apóstolos, cientistas, investigadores e inteligentes.
Estes espíritos meditativos ou agitadores, que trazem a boa nova para o futuro, raras vezes se veem honrados e seguidos durante sua passagem humana. Quase sempre se extinguem em uma obscuridade miserável ou morrem ignominiosamente diante do povo.
Já fizemos a narração da morte de Jesus tendo por espectador o povo; ocupemo-nos, irmãos meus, da felicidade de Jesus depois da sua morte corporal e das recordações que conservou, depois de séculos de transfiguração, sem exagerar a parte desta confidência de meu espírito para com os vossos espíritos.
A matéria dorme para sempre, a alma e o espírito dormem durante uma temporada limitada pela justiça divina.
A alma e o espírito de Jesus dormiram durante algumas horas.
O apagar-se das cenas terríveis a que havia assistido Jesus como ator principal foi o primeiro benefício de seu despertar e a certeza de sua felicidade veio-lhe da recordação de sua memória.
Jesus esquecia seu recente passado, entretanto recordava as promessas feitas à sua laboriosa atuação. Jesus nada percebia já das torturas humanas e sua alma parecia voltar a um formoso sonho ao mesmo tempo que seu espírito buscava o motivo do movimento que produzia a seu derredor e a causa das excitações de sua vontade para sacudir o entorpecimento que o mantinha imóvel.
Pouco a pouco o sentimento de sua própria força se misturava com os desejos de Jesus, e se manifestou sua presença com uma invocação de poucas palavras:
“Meu Pai.”
Muitas vozes lhe responderam:
“Deus te ama e te abençoa!”
Muitos rostos se inclinaram sobre o meu, reconheci-os e lhes sorri... E a luz feita tornou-se mais intensa.
Não é esta a oportunidade para indicar os perigos e os escolhos de qualquer manifestação provocada com propósitos fúteis de curiosidade ou de interesses materiais, porém, o que devo afirmar é que espíritos de luz não empregam as manifestações materialmente comprovadas senão para a glória de Deus e em cumprimento de um dever fraternal.
Jesus havia conservado relações de século em século, porém não podia deter os movimento de revolta, nem moderar os efeitos do abuso de autoridade, pois que sua mediação direta e persistente não conseguia vencer as dificuldades da hora muito prematura, para desempenhar-se como verdadeiro parlamentário.
Muitas vezes, no século em que nos encontramos, tentou manifestar-se. Estas experiências foram funestas; e ainda no dia de hoje sua narração contém abstrações de forma, juízos incompletos, porque o espírito depositário, lutando sem descanso contra obstáculos materiais, precisava que Jesus usasse de cautela ao fazer chegar sua palavra, para que o mesmo depositário não tivesse que sucumbir sob o peso de emoções fortes e muito repetidas.
As honras da mediunidade não se adquirem sem causar transtornos ao organismo humano e esses transtornos determinam frequentemente o desequilíbrio das faculdades mentais.
Espantosos sofismas preparam as tempestades; Jesus faz ouvir sua voz de apóstolo de Deus à Humanidade, da qual é sempre o Messias, e isto pelas expansões de seu espírito em um espírito humano. Este espírito depositário possui todas as faculdades inerentes à compreensão das obras de Jesus. É de condição obscura entre os homens e encontra-se ligado a Jesus por dependências de ordem espiritual.
Irmãos meus, abençoai a majestosa aliança de vosso Messias com Deus e colhei os frutos da doce aliança de Jesus com um espírito humano.
Cumpri minha palavra em manifestar-vos porque vim neste tempo e em tal lugar, melhor que em outro.
Devo acrescentar que vossa atual situação atrai a compaixão de todos os espíritos dignos do amor de Deus.
Que a paz seja convosco, irmãos meus.
Jamais esta palavra foi de uma aplicação tão necessária.
Que a paz seja convosco e que a ciência vos abra os caminhos da felicidade.
Que a paz seja convosco! E que a morte daqui vos dê a vida livre sob os olhares de Deus.
FIM DA PRIMEIRA PARTE
Do livro: VIDA DE JESUS DITADA POR ELE MESMO – Páginas 312 a 319
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