sábado, 17 de setembro de 2011

VIDA DE JESUS DITADA POR ELE MESMO - 1ª PARTE - CAPÍTULO XI - RESUMO

... As sujeições do espírito me inspiravam um profundo desgosto pela humanidade inteira. Não dizia já: “Respeitai a lei de César”, senão: “Não há mais que uma lei e essa é a que vos trago. Todos os homens são iguais e têm que dividir-se entre eles todos os bens da Terra”.
Para que aplicação dos preceitos de igualdade e de fraternidade tenha força de lei, em um mundo, é necessário que a maioria dos espíritos desse mundo esteja penetrada da mesma força moral para conseguir idêntico fim.
Jesus era, pois, um mau espírito quando dizia: Todos os homens são iguais e devem repartir entre si os bens da Terra.
Jesus, e depois dele todos os que pronunciavam esta máxima, se têm equivocado de época: Jesus e todos os queriam ou querem o adiantamento de uma humanidade, não deviam e não devem, em circunstância alguma, determinar ações com teorias não apropriadas à inteligência dos membros dessa humanidade.
... Não confiemos nossos tesouros sem saber antes a quem o entregamos; não introduzamos no mundo a confusão de línguas; falemos de conciliação e de esperança a todos, porém falemos de liberdade tão-somente com os sábios.
Sempre existirão pobres e ricos, chefes e subordinados no mundo Terra, mas a emancipação gradual dará a todos a compreensão, e da emancipação completa surgirá o bem-estar geral.
Jesus tinha que contemplar com impaciência o espetáculo da falsa devoção, da incúria moral, das ilógicas crenças, do embrutecimento dos espíritos e tratava com dureza, nas galerias do templo, aos detentores dos pobres animais destinados ao suplício, aos mercadores de objetos fúteis, de amostras de amuletos de sortilégios e de supostas imagens religiosas.
“Vós converteis a casa de meu pai em uma caverna de ladrões, dizia ele; e atirava ao chão as bancas, juntando o furor do gesto à cólera da voz e dos olhares.”
“Vós tendes a doçura nos lábios e o ódio no coração; vossas esmolas, vossas preces, vossas penitências não são senão meios para enganar os homens e gozar de prerrogativas no meio deles”.
“... buscais as honras do mundo quando Deus solicita em vão as honras de vosso Espírito. Ajoelhai-vos diante do bezerro de ouro enquanto vossos irmãos carecem de alimentos e de roupas”.
“... e todos os que colocam sua felicidade na posse das riquezas e do mando, serão os pobres, os deserdados, os párias de uma nova habitação temporal; vós tereis fome e sede, ó ricos egoístas; pedireis descanso, folgazões orgulhosos; e continuareis no trabalho, sem aplacar a fome e a sede.”
Quiseram responsabilizar-me por todos os milagres de que me faziam o autor alguns amigos meus e dos quais meus inimigos se valeram para perder-me. Nunca disse nem fiz nada, conscientemente, que pudesse servir de base às pueris crenças na alteração das leis da Natureza...
Saiba-se antes que tudo que meu hospedeiro de Betânia chamava-se Simão e não Lázaro; que se encontrava de perfeita saúde à minha chegada e não leproso. Saiba-se que, durante a enfermidade contraída depois por ele, Simão nunca chegou aos extremos de ter que passar por morto, e sabia-se finalmente que eu não me prestei de maneira alguma a esta invenção de um milagre.
Eu não conhecia a família de Simão, tampouco a Simão, antes de minha última viagem a Jerusalém... Simão e Marta, sua esposa, não tinham ainda ultrapassado os vinte e cinco anos; Maria, menina de treze anos, era irmã de Simão. Ela reunia a uma grande doçura de caráter e grande tendência para o espiritualismo.
Certa ocasião em que eu visitava uma sinagoga no perímetro que se estendia de Tiberíades a Cafarnaum, senti-me quase importunado pela atenção de que me fazia objeto uma mulher. Essa mulher, colocada em minha frente e a curta distância, dirigia-me um olhar, cuja luz e persistência obrigavam-me a baixar o meu. Esta mulher era alta, jovem e bela. Esta mulher nascida na Galiléia, havia chegado recentemente de Sídon.
... A alma de Maria sofria pela objeção de seu espírito. O espírito de Maria estava pervertido pelo amor impuro, bestial e delituoso dos homens. Quis dar a essa alma e esse espírito o impulso de um amor que resplandece da chama divina, para resplandecer na imortalidade do porvir; mas aí! Maria, dando o adeus, para sempre, aos seus desejos de loucas uniões e de alegrias intemperantes, caiu sob o jugo de uma paixão humana, da qual a alma não teve consciência, e que o espírito se obstinou em chamar paixão divina.
Depois de nosso terceiro encontro, Maria pediu-me permissão para seguir-me como faziam algumas outras piedosas mulheres que se juntavam aos meus discípulos. Eu consenti e prometi facilitar-lhe sua conversão com meus conselhos e meu apoio. Muito tempo depois me apercebi do amor carnal de Maria. Deus deu-me a força para manter-me em minha posição de pai e de consolador; mas ela, pobre mártir, tinha que esgotar todas as amarguras do remorso, sofrer todos os desvanecimentos do espírito, todas as desesperações da alma.
Maria de Magdala levava uma vida desordenada, andava já por sete anos, quando a conheci... Eu não me enganava descobrindo um tipo nobre e casto sob a nódoa de imundos amores. Mas caí no engano ao crer que Maria seria toda de Deus, e tive a necessidade de ser amparado por poderosas alianças espirituais para não ser vencido por uma afeição terrestre. Maria tinha vinte e quatro anos quando a vi pela primeira vez. Quando minha mãe veio a Cafarnaum, Maria de Magdala já havia sido recebida por meus discípulos e constatei com alegria o acolhimento natural e benévolo das duas mulheres que amei mais que tudo sobre a Terra. Quando tive que demonstrar aspereza à minha mãe porque queria fazer-me renunciar a meus trabalhos de apóstolo, encontrei Maria banhada em lágrimas entre os braços da abandonada. Elas prometiam-se mutuamente uma dedicação inalterável e mantiveram sua palavra.
Maria não se encontrou comigo nas núpcias de Canaã, porém, acompanhou-me em minha última visita a Nazareth e nunca mais me deixou desde então. Voltaremos a vê-la em Jerusalém e a introduziremos na casa de Betânia, onde foi testemunha de tudo o que se passou entre a família de Simão e eu.
“O pensamento não se apaga. Segue através dos mundos, comunica-se nos espaços, liga entre si os espíritos, sanciona o princípio de fraternidade e realiza milagres de amor”.
Nicodemus dava às suas visitas uma forma misteriosa que acusavam seu coração e seu espírito de fraqueza e de considerações humanas.
José de Arimatéia amparava-me com todo o calor de sua alma, com toda a veemência de um pai terno e infatigável, como assim também com toda a sua importância social. Fazia causa comum comigo e se haveria também exposto à morte, se eu não lhe houvesse demonstrado, de uma maneira peremptória, a inutilidade de seu sacrifício e a necessidade, pelo contrário, de seu concurso depois do meu desaparecimento. José de Arimatéia era com quem eu mais contava para dirigir o que eu havia fundado e tudo o que pretendia afirmar com minha morte corporal e com a minha ressureição em espírito. José era o meu confidente mais seguro e precisava de sua inteligência para tirar partido das menores circunstâncias favoráveis à nossa causa, como também de sua dedicação em cumprir minhas últimas disposições. José me havia recebido menino para ajudar os desígnios de Deus a meu respeito; ele teria também que, ao receber meu corpo privado de vida, continuar a servir a Providência com os obstáculos que poria aos propósitos delituosos dos homens.
Marcos pertencia a uma família de boa posição de Jerusalém.
Marcos, o estudante, era quase um revolucionário, tanto detestava todas as opressões. Eu o conduzi para o sentimento religioso, fazendo-o saborear os atrativos de uma doutrina que ensinava a fraternidade entre os homens sob a dependência da paternidade divina, que aconselhava o valor na adversidade, a modéstia no meio da fortuna, o desprezo pelas injúrias, a comiseração para todos os culpados. Marcos não me amou, senão que me adorou.
Marcos esqueceu por mim, sua fortuna, que não podia oferecer-me, porque ainda não gozava dela, sua família, que o tratava como um visionário, seus companheiros de prazeres, seus hábitos ociosos, suas fantasias, suas distrações e também suas horas de trabalho, que dizia substituí-las vantajosamente permanecendo ao meu lado. O belo caráter de Marcos deveria ter produzido a mais favorável impressão em meus discípulos; pelo contrário, muitos tiveram ciúmes devido ao nosso recíproco afeto; outros não viram no abandono de sua posição mundana mais que uma fraqueza momentânea de suas faculdades intelectuais; outros procuraram os motivos deste abandono na paixão que devia ter-lhes inspirado alguma das mulheres que faziam parte do círculo de meus ouvintes. Em troca José de Arimatéia regozijava-se do que ele chamava de conversão, e os mais clarividentes, os mais preparados, amaram e respeitaram ao valoroso discípulo de Jesus, que o seguiu até o Calvário, que beijou seu corpo ensanguentado e desfigurado, que ajudou a José e a Nicodemus na tarefa noturna, que morreu jovem, oprimido pela dor, cheio de esperanças, porque Jesus tinha morrido e ele bem depressa tornaria a vê-lo.
... As mulheres vindas da Galiléia eram: Salomé, Verônica, Joana, Débora, Fatmé e finalmente Maria de Magdala. De Salomé já falei; Verônica era viúva, ela havia cuidado de mim, como a um irmão e respeitado como a um apóstolo de Deus, desde os primeiros dias de minha permanência em Cafarnaum. Joana, Débora, Fatmé, muito jovens para encontrarem-se ao abrigo das calúnias, riam-se delas, porém com afabilidade, derramando sobre todas, e sem preferências, os atrativos de sua espiritualidade, a generosidade de seus corações.
Minha mãe encontrava-se em Jerusalém desde alguns dias, porém eu não sabia. Eu havia-lhe exigido o sacrifício de que não me seguisse e que esperasse um aviso meu. Porém Maria de Magdala mantinha relações com minha mãe, e, para combinar melhor os meios de arrancar-me à morte, ela pediu com insistência para que se trasladasse para uma casa das proximidades de Jerusalém. Meus irmãos José e Andréa foram também a Jerusalém. O firme propósito deles era o de apostrofar-me e de desmentir publicamente minhas palavras, insinuar à multidão de que eu me encontrava tomado de loucura, para reclamarem a força a fim de separar-me da companhia de meus discípulos. Esta conspiração era por mim, bem conhecida, assim é que preparei-me para fazê-la fracassar e resolvi para este fim permanecer mais tranquilo ainda em meu retiro. As duas Marias ignoravam o projeto de meus irmãos. Elas tinham esperanças na intensidade de seu amor, para fazer-me descer da glória de Messias à ignomínia da fraqueza. Para mim, o perigo era este e a luta tinha que ser horrível.
Do livro: VIDA DE JESUS DITADA POR ELE MESMO – Páginas 223 a 245

Nenhum comentário:

Postar um comentário