Assim se passou um ano. Cansado de minha pouca inteligência para tudo o que se relacionasse a trabalho manual, meu pai consentiu afinal em mandar-me a Jerusalém.
Recebi esta notícia com entusiasmo. Minha mãe chorou ao abraçar-me; ela se encontrava sob dupla impressão de minha alegria e de nossa primeira separação.
Pus-me a caminho com ela e bem depressa encontrei colocação na casa de um carpinteiro que devia ensinar-me o ofício do meu pai e conceder-me horas de saída para o estudo sob o patrocínio de José de Arimatéia.
Comecei pela filosofia com ideias precisas sobre a imortalidade da alma. Minhas noções de história eram muito fracas e custou-me muito fixar meu espírito no circulo das ciências exatas. A astronomia prendia minha atenção por causa das esplêndidas maravilhas que desenvolvia sob meus olhos, porém a contemplação destas maravilhas me distanciava da curiosidade das demonstrações, persuadido como estava da influência da teoria.
Praticava a observância da lei mosaica com escrupulosa exatidão e as fantasias da minha imaginação se detinham no dogma sagrado. Porém pouco a pouco fortes tendências para um espiritualismo mais elevado me fizeram desejar as grandes manifestações da alma com a alma no vasto horizonte das alianças universais. Devorado por imenso desejo de descobrimentos que empolgava todas as minhas faculdades e da penosa expectativa do desconhecido, que perturbava meus sonos e entristecia meus pensamentos de solidão, roguei, supliquei a José de Arimatéia que me explicasse os mistérios da Cabala, também chamada ciência dos espíritos.
José recebeu muito mal minha curiosidade. A Cabala, segundo ele, servia tão-somente para produzir a perturbação, o desassossego, a semente da revolta nos espíritos fracos.
E como poderia eu, tão jovem, distinguir o bom grão do joio, se a maioria dos homens se deixava desviar do reto caminho por uma falsa apreciação desta ciência e por funestos conselhos dados com leviandade e com maus propósitos?
Voltei repetidas vezes à carga até que, vencido por minha insistência, ou iluminado talvez por uma repentina visão, José consentiu em iniciar-me na ciência dos Espíritos.
Os jovens menores de vinte e cinco anos não eram admitidos, acontecendo o mesmo com as mulheres; porém as exceções, muitas vezes repetidas, tornavam ilusória esta disposição regulamentar.
Eu estava incluído no número destas exceções.
No intervalo que vai dos meus quinze anos de idade, até o falecimento de meu pai, permaneci a maior parte de meu tempo em Jerusalém.
... José morreu rodeado da estima geral e do afeto dos seus. Eu tinha,..., vinte e três anos completos...
José de Arimatéia tornou-me como filho seu quando, longe de minha família, fui pedir-lhe abrigo e proteção. Ajudou-me a obter o perdão de minha mãe. Minha mãe não somente me perdoou como também deu-me permissão para seguir minhas inclinações e uma vida independente.
À medida que a luz do alto penetrava com mais intensidade em meu espírito, ele se via invadido cada vez mais por uma séria aversão pelas instituições sociais dominantes.
..., procurei adquirir o prestígio das classes pobres sublevando-me contra os ricos, os poderosos e as leis arbitrárias. ..., muito embora fizesse a Deus o oferecimento de minha vida para salvar o gênero humano. O arrebatamento do meu coração fazia-me esquecer as dificuldades e, frequentemente, com o rosto inundado em lágrimas, as mãos estendidas para um objeto invisível, fui surpreendido em uma posição que parecia crítica para a minha razão. Meus amigos me humilhavam nessas ocasiões com tais demonstrações e sarcasmos que eu me retirava das vistas humanas para pedir perdão a Deus de meus transportes, acusando-me de orgulhosos desejos.
O Messias tinha já vivido sobre a Terra porque os Messias jamais vão como mediadores em um mundo que não tenham habitado anteriormente.
Repito-vos, irmãos meus, a pureza do espírito se encontrava na natureza do Messias, antes que ele se encontrasse entre vós como Messias. Repito-vos, também, que os olhares de Deus lançam a semente em um tempo para que ela dê frutos em outro tempo e os Messias não são mais que instrumentos da divina misericórdia.
Irmãos meus: Deus é vosso Pai como é o meu; porém, na cidade florida onde se encontram e recebem os Messias, o título de filho de Deus nos pertence de direito. Chamai-me, pois, sempre filho de Deus, e tende-me por Messias enviado a Terra para a felicidade de seus irmãos e glória de seu Pai.
Do livro: A VIDA DE JESUS DITADA POR ELE MESMO, páginas 72 a 84. - (RESUMO)
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