Definamos hoje, irmãos meus, a graça inerente à natureza humana e ascendamos os escalões que levam ao conhecimento da criação do homem.
Parto de um princípio e digo que o livre arbítrio e o sentimento de responsabilidade das ações são dados ao homem no estado natural e primitivo.
O espírito é uma criação de Deus, da qual a alma foi promotora e a matéria sua expressão.
Irmãos meus, para que o quadro da criação seja compreensível para vós é necessário admitir como ponto de partida: a alma, como faculdade sensitiva; o espírito, como faculdade pensante; a matéria, como faculdade demonstrativa, no mundo em que habitais.
A alma é o princípio do movimento e das sensações. A alma é o sopro divino que se desliza e se reanima pela força da matéria, que se alimenta das forças da natureza carnal e que se extingue com o seu enfraquecimento.
Nas raças de espíritos inferiores a memória está circunscrita a hábitos naturais e a combinações pueris. Nas raças mais elevadas a memória converte-se na fonte do progresso, dirigindo sua luz sobre as faltas cometidas no passado. Nas regiões inteiramente espirituais a memória tira do passado ensinamentos preciosos para compreender o porvir.
... Que é a alma senão parte sensível do ser, o direito de sentir e de respirar, a capacidade de gozar e de sofrer?
... Se vosso espírito, no exercício dos dons de Deus, quero dizer, no caminho dos gozos e dos conhecimentos adquiridos, deixou vossa natureza cheia de vícios, porque tenha se inclinado ao mal o livre exercício de suas faculdades, a alma se ressente deste embrutecimento e permanece inerte na sensação das alegrias que lhe são inerentes e como que deserdada pelo distribuidor destas alegrias.
... Se o espírito titubeia em seguir a luz da evolução, a alma sofre e chora. A alma eleva a voz no silêncio, na solidão e esta voz chama-se consciência.
A alma é a consciência do espírito, a alma é a elevada expressão da moral, colocada no ser como semente do porvir.
... O espírito não se revela na infância porque o cérebro não tem o desenvolvimento conveniente, do mesmo modo que na velhice o sentimento da animalidade domina a natureza humana; porém a medida que se adquirem forças, o espírito se evidencia através do nevoeiro que o envolve, demonstrando seu caráter e suas aptidões.
... A memória da criança e a memória do homem guardam do passado tão-somente as tendências e os gostos, dos quais a presente existência oferece a prova inegável.
Todos os espíritos devem descobrir o poder de Deus e a dependência de sua própria natureza. Todos os espíritos devem estudar a origem e o objeto da existência, porém devem ao mesmo tempo dominar o instinto natural da matéria para converter esta descoberta e este domínio no pedestal de sua grandeza espiritual. Todos os espíritos humanos, ainda que tenham de permanecer séculos na ignorância, não sairão desta ignorância senão quando suas tendências carnais hajam sido finalmente anuladas, mediante esforços de paciência e provas de pureza em presença da elevada esperança dos bens faustosos da espiritualidade.
Irmãos meus, no mundo em que habitais, as influências do círculo de vossas alianças e a cegueira do espírito não permitem ao pensamento elevar-se até os deliciosos gozos da espiritualidade.
... a luz de Deus penetra através das trevas, a vontade do espírito despedaça o jugo que o aprisiona, e portanto o espírito humano, pobre ainda, porém resolvido a engrandecer-se, rasga o véu que lhe esconde a adorável imagem de Deus. O fim dos espíritos é progredir e pouco lhes importa a natureza dos obstáculos que os rodeiam. Que pode importar-lhes as ambições mesquinhas de sua passagem momentânea na vida material?
Descobri vossos destinos, irmãos meus, na manifestação espiritual. Praticai excursões ao centro da luz e libertai vossas almas dos laços que as oprimem. Permanecei defensores do livre pensamento, ó vós que desejais a emancipação do espírito! Porém fazei participar da discussão o grande nome de Deus e inclinai-vos perante os testemunhos de seu poder e de seu amor.
Influí em favor da educação geral das massas e empregai vossas faculdades para o bem geral. Arrebanhai crentes para a religião universal, fazendo-vos seus apóstolos. Ela quer a fraternidade entre os homens e a devoção para com Deus. Buscai o elemento divino em sua pureza e a paz no mundo, relacionai o amor da família com o amor entre todos os espíritos, aproximai-vos à habitação humilde, do mesmo modo que à faustosa morada, e explicai o porquê do rigor das provas a par da abundância dos dons; o porquê da grandeza das ideias a par da desnudez do espírito, do caminho das honras a par do estacionamento das faculdades, da de grandes inteligências a par do desenvolvimento puramente vegetativo do homem em suas fases de crescimento e de pausa. Destruí a vergonha no matrimônio substituindo-a pela sinceridade e a delicadeza do amor.
Castigai o assassino, porém jamais mateis o assassino: o direito de morte só a Deus pertence.
Fazei repousar a lei humana sobre a lei divina e levantai o culpado depois da expiação para induzi-lo a seguir o caminho da reabilitação e da liberdade.
Sexta-feira Santa – 19 de abril de 1878
Honremos a memória de minha morte corporal e afirmemos novamente que Deus é de tal sorte superior à Humanidade que não poderá misturar-se materialmente com ela.
Insisto sem cessar sobre esta falsa direção impressa às cousas pelo espírito humano, porque transtornou o bom sentido de homens levados para o sentimento religioso e porque deu em resultado ser uma fonte inesgotável de impiedade e de delitos.
Jamais Jesus pretendeu passar por Deus e os milagres que se lhe atribuem são uma pura invenção.
“Meu lugar não é aqui, mas vim até vós para trazer-vos a luz e a boa nova”.
“Voltarei ainda, porque muitos que não podem compreender-me agora, me compreenderão mais tarde, pois minha missão divina não tem termo, porque representa o amor de Deus para com todos os homens”.
“Todos os homens são meus irmãos; os fortes têm que prestar seu apoio aos mais fracos; os instruídos têm a obrigação de ensinar a moral e a lei divina; os ricos têm o dever de fazer participar os pobres de suas riquezas”.
“Muitos entre vós verão o reino de Deus, porque o homem torna a nascer para cumprir seu destino. Todo o que tenha vivido tornará a viver, pois a morte só tem domínio sobre a carne”.
O caráter imutável de Deus determina a inviolabilidade de suas leis.
Compreende não só a aliança dos espíritos de um mundo, senão também a aliança dos espíritos de todos os mundos.
A morte corporal não enfraqueceu em nada o amor de Jesus para com a humanidade terrestre, e responde aos infelizes que o imploram, explicando-lhes os erros religiosos e a causa de seus sofrimentos.
Deus, cheio de misericórdia para o pecador, permitiu que eu aqui me manifeste ostensivamente e a graça renovada constitui uma promessa de novas graças.
NOTA (do original) – A manifestação da sexta-feira santa de 1878 foi transcrita para aqui porque afirma a não divindade de Jesus, de acordo com o igualmente estabelecido na narração inteira de sua vida; constitui isto mais um laço de continuidade do que uma sanção. Mais tarde se entenderá.
Do livro: VIDA DE JESUS DITADA POR ELE MESMO – Páginas 153 a 166
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